Opinião

Fish & chips

31 ago 2016 00:00

Trabalha o ano inteiro como secretária numa empresa anónima na periferia de Londres. Passa o tempo nos transportes públicos para poder ter dez dias de sonho em Torremolinos.

Levanta-se quase todos os dias com a aurora. Por vezes ainda não se deitou (vem cansada e sozinha da discoteca) quando se cruza com ela e vai a correr colocar a toalha a marcar a chaise-longue à beira da piscina cheia de cloro, há que matar a bicharada, para ficar bem colocada em direção ao sol, ganhar todo o bronze a que tem direito, e poder apreciar os bíceps do animador espanhol que, afinal, é gay e não lhe liga nenhuma.

Depois vai ao pequeno almoço da meia-pensão que, afinal, deveria ser pensão-completa. Bom, mas no pequeno-almoço, e para poupar o almoço, faz uma jam entre o espanhol e o inglês: ovos mexidos, bacon frito, feijões guisados e, por vezes uma salsicha, na companhia de uma torrada de pão escuro, ombreiam com croissants folhados, não há brioche, churros, tostadas com tomate e jamón ibérico.

Bebe um sumo detox para limpar as impurezas. Come um pouco de fruta por consciência. Depois, na borda da piscina adormece ao sol. Acorda com a música electrizante da ginástica geriátrica que põe a piscina a borbulhar.

Chama-se Cathy, nome fictício. Trabalha o ano inteiro como secretária numa empresa anónima na periferia de Londres. Passa o tempo nos transportes públicos para poder ter dez dias de sonho em Torremolinos, rodeada doutras secretárias inglesas que, como ela, tentam ter tudo a que têm direito nesses 10 dias, bronze incluído, o que conseguem depois de largarem o factor 50. Hoje em dia já nem as suecas suam lagosta.

*Cineasta

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