Opinião
Globalização e regionalização: processos que se complementam
O futuro exige que pensemos globalmente, mas que atuemos localmente
A globalização corresponde ao processo de intensificação das interações e interdependências entre países, sociedades e economias, impulsionado pelo avanço das tecnologias de transporte, comunicação e informação. Este fenómeno potenciou fluxos intensos de capital, bens, serviços, pessoas e ideias.
No entanto, crises recentes — como a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia, o genocídio em Gaza e as alterações climáticas — expuseram fragilidades profundas de um sistema excessivamente dependente e interligado, reabrindo o debate em torno dos limites e das consequências do modelo globalizado.
Neste contexto, a regionalização ganha uma nova relevância. Longe de ser um retrocesso, representa uma resposta adaptativa e estratégica aos desafios atuais. Regionalizar significa reforçar as dinâmicas locais e territoriais, reorganizar cadeias de produção, promover relações de proximidade e valorizar os recursos endógenos — sejam eles culturais, humanos ou naturais.
Em vez de depender exclusivamente de cadeias produtivas longas e vulneráveis, torna-se cada vez mais importante apostar em circuitos curtos de produção e de consumo, que contribuam para a resiliência económica, a coesão social e a sustentabilidade ambiental. A regionalização permite, assim, reforçar a autonomia e a capacidade de resposta das comunidades face a choques externos, sejam eles económicos, sociais ou ambientais. Importa, porém, sublinhar que a globalização não deve ser descartada. Os seus benefícios são indiscutíveis: a partilha de conhecimento, o acesso a tecnologias inovadoras, o enriquecimento cultural e, idealmente, uma distribuição mais equilibrada da riqueza.
O que se impõe é pensar numa globalização mais justa, que respeite as especificidades regionais e promova uma integração que não anule a diversidade, mas que a celebre. Regiões com instituições sólidas, capital humano qualificado e políticas públicas centradas nas necessidades da maioria têm maiores capacidades de adaptação e de inovação.
A valorização dos produtos locais e o investimento na economia de proximidade são caminhos auspiciosos para um desenvolvimento regional com ambição global. Não se trata, portanto, de escolher entre globalizar ou regionalizar, mas sim de compreender como articular ambas as dimensões de forma coerente e sustentável.
O futuro exige, que pensemos globalmente, mas que atuemos localmente — reconhecendo que os territórios não são meros espaços geográficos, mas comunidades vivas, com identidade e história própria.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990