Opinião
Imunizar consciências
As fontes credíveis, que contestem e rejeitem a informação infundada e alarmista, são o alicerce da imunidade.
Imunizar a consciência e mitigar o alvoroço são atitudes essenciais no momento actual.
Conter a hiper-reactividade emocional perante o estado de pandemia decretado pela OMS face à propagação do Covid-19 é responsabilidade de todos e de cada um, não querendo com isto dizer que se neguem, desvalorizem ou amenizem as medidas que somos impelidos a adoptar.
A informação credível, o conhecimento sustentado, validado cientificamente, são o verdadeiro antídoto da doença.
Com medo e desinformação, o contágio da resposta eficaz às adversidades é uma epidemia que se instala na consciência individual e colectiva, conduzindo à patologia psicológica e social.
Este cenário inédito em que nos situamos releva uma questão essencial para o ser humano, indivíduo pertencente a um habitat nativo e genuinamente natural em que foi gerado, regido pelos ritmos da vida e da morte.
Uma ordem ou sistema de leis que precedem a existência das coisas mundanas e a sucessão dos seres vivos que compõem o universo.
Viver e morrer são dois extremos de um horizonte, cuja essência e qualidade é finita, mas que progride pela evolução dos organismos - conjunto de todos os seres que compõem o universo.
Talvez nos esqueçamos de que o mistério da sobrevivência é o da pertinácia, ou talvez o da resiliência, edificada sobre contraciclos e extermínios, propriedade que os sistemas vivos adquirem após a exposição à devastação, ou em função de condições antes reconhecidas como um equilíbrio inalterável.
No caso do Homem, dotado do instrumento da consciência, o vírus do pânico é o que mais facilmente se dissemina, pois essa psicose do contágio assume um contorno mais que epidémico, deixando a reacção eficiente ao real foco do medo num registo inconsistente e distópico.
Entrar em pânico (com medo do próprio medo, em face de uma percepção distorcida ou ampliada do risco, ainda que real), é tudo o que deveremos evitar.
As fontes credíveis, que contestem e rejeitem a informação infundada e alarmista, são o alicerce da imunidade.
Estar munido de conhecimento validado pela comunidade científica e pelo corpo de especialistas em constante actualização é o verdadeiro tratamento para a erradicação do envenenamento da vida e das relações interpessoais, que são a garantia da nossa sobrevivência, que não logra ser contagiada com atitudes acéfalas ou mentalidades atávicas que vão prevalecendo no (des)entendimento de muitos.
Citando Ralph Waldo Emerson, “a maior das homenagens que podemos prestar à verdade é utilizá-la”, pelo que teremos de combater a ameaça sem actos inconscientes ou desprovidos de método, desalienados de contágios alarmistas.
Os epidemiologistas de todo o mundo, com destaque para o Instituto Pasteur de Paris, mencionam que em 80% dos casos o Covid-19 é benigno, ainda que de contágio extremo, fazendo contudo referência à inegável condição de que a abordagem solidária e sistemática, encabeçada pelos Governos e entidades sanitárias, usando todas as táticas profiláticas e elementos disponíveis de contingência, parece estar a ser capaz de conter e restringir a evolução desta doença, ainda que à custa de uma notória suspensão da vida, com esmeros e prejuízos económicos, sociais, educacionais, culturais, sobretudo condicionantes das liberdades individuais e direitos humanos, que subvertem o ciclo natural da civilização.
Custe o que custar, o maior tesouro de todos nós – a Saúde, não tem preço. Há que preservá-la como uma imperiosa riqueza.