Opinião
Jornadas contínuas
Somos um País pobre! Indiscutível! Mas não é só nos poucos meses e dias antes das Jornadas que nos devemos lembrar e indignar
O Papa esteve em Portugal. Ele e milhão e meio de pessoas de todo o mundo. Segundo os repórteres faltou só um representante das Maldivas. Fosse eu que mandasse e mandava lá alguém buscar uma alma para representar esse país, para assim podermos dizer que em Portugal esteve o mundo.
Fenómeno curioso este das Jornadas Mundiais da Juventude. Ninguém lhes é indiferente. A favor ou contra, mas não indiferente. Eu estive lá. Dormi ao relento. Eu e mais milhão e meio de pessoas. E vi passar o Papa. Duas vezes até… Ao que parece, no corredor onde eu estava o carro teve que fazer inversão de marcha, e por isso passou por mim duas vezes.
Logísticas complicadas. E foi para isso que também olhei. Para as logísticas associadas a tão enorme evento que decorreu neste “cantinho do céu à beira mar plantado”. E que orgulho tive! Ver o nosso País invadido por tantos países. Uma boa invasão, que é o que tanto falta ao mundo. Ver tanto jovem junto, feliz, calmo, sem um único queixume ou reparo aos dias que por cá passaram. Muito dinheiro se gastou. Mas isso, infelizmente, é comum neste nosso cantinho.
Por todos os motivos e em todas as ocasiões. Ainda que de memória curta, também se gastaram milhões em estádios, também usados uma vez. E a Expo. Aquela de 98. Não sei a polémica da altura. Mas lembro-me bem da pala. Que não foi barata... Podia-se ter gasto muito menos. Indiscutível! Mas não só nas Jornadas. Aliás, nas Jornadas (e nestes outros eventos, que até são únicos, e são sobretudo uma excelente e importantíssima publicidade ao nosso País e à nossa e ciência, como nestes dias todo o mundo viu e confirmou), até se poderia ter gastado mais (apenas se preciso fosse, claro), se nas outras jornadas, aquelas contínuas, do dia a dia, nos nossos diversos trabalhos e serviços públicos, não se gastasse tanto e tão mal, os poucos recursos que temos e para os quais todos, ou quase, contribuímos com os nossos impostos.
Somos um País pobre! Indiscutível! Mas não é só nos poucos meses e dias antes das Jornadas que nos devemos lembrar e indignar. Temos sim, que nos lembrar, todos os dias, sem exceção, de que somos pobres, para assim pararmos de esbanjar o que, na verdade, não temos, mas afinal optamos por ignorar não termos.
Não discuto (e defendo!) que se poderia ter poupado muito nestas Jornadas. Mas e o tanto que não poupamos todos os dias? O que podemos fazer? Fica o desafio. Aos políticos. Aos decisores, À comunicação social. Ao cidadão. Jornadas contínuas, portanto. Parecem ser precisas.