Opinião
Juízo
Falta-nos criar um sistema eficiente e eficaz de acolhimento e integração
Temos muito mais sorte do que juízo. Ficámos a saber melhor por dois artigos publicados neste jornal a 26 de setembro, um da Anabela Silva e outro da Daniela Franco Sousa, que o distrito de Leiria era agora casa de 44.000 estrangeiros o que se refletia, entre outras coisas certamente, na enorme diversidade de escolha gastronómica oriunda dos quatro cantos do mundo que se nos oferece.
Lembro-me bem, e muitos de vocês também, do tempo em que as nossas escolhas variarem entre o bitoque e o peixe grelhado ou pouco mais. É portanto uma sorte, uma bênção, podermos escolher pôr na mesa outros sabores. É verdade que não levo à boca regularmente quase nada daquilo que me é estranho mas nem por isso deixo de apreciar o facto de ter essa possibilidade assim como louvar o efeito que tem no cuidado com que se trata a cozinha portuguesa.
É cada vez mais raro um peixe ou um bife mal grelhado, uma açorda para esquecer, um arroz de tomate mal feito, uma carne mal confeccionada. Eu para quem uma feijoada, um cozido ou umas papas de sarrabulho são meio mundo não posso deixar de pensar no efeito impulsionador da diversidade de oferta de outros sabores sobre os peixinhos da horta ou os joaquinzinhos que se vão conseguindo encontrar. É uma bênção, repito.
Outra bênção são os 2,677 mil milhões de euros que os estrangeiros fizeram entrar na Segurança Social o ano passado. E os milhões que fazem entrar todos os dias este ano. Sem eles chapéu está bem de ver mesmo sem precisar de máquina de calcular.
Temos sorte. Sem eles não há estradas novas, terrenos limpos, novas construções ou seja o que for. Sem eles podemos dizer já adeus ao PRR. É assim, é a vida.
É uma sorte imensa que este retângulo à beira mar plantado tenha sido escolhido por tanta gente em detrimento de outros países, onde como se sabe toda gente vive bem, trabalha pouco e é feliz. Temos sorte mas, falta-nos ter juízo. Falta-nos criar um sistema eficiente e eficaz de acolhimento e integração.
Falta-nos redimensionar as nossas estruturas sociais de apoio, da saúde à justiça e à educação, perante uma nova realidade, combater a mentira e o disparate. E não vamos lá de outro modo. Não vamos lá sem juízo.