Editorial
Medidas radicais com urgência
Em cima do medo da Covid-19 e de ver em Portugal algo parecido ao que está a acontecer em Itália e em Espanha, onde já morreram vários milhares de pessoas, começa a cavalgar uma crise económica com consequências ainda difíceis de antecipar com rigor
Parecendo apenas certo que nos esperam tempos dramáticos.
Com a Europa praticamente parada e muitos dos países fora do velho continente também com problemas graves, as empresas portuguesas estão num verdadeiro colete de forças, sem soluções alternativas aos mercados habituais.
No fundo, se para controlar o vírus são possíveis medidas como encerramento/controle de fronteiras, quarentena, cercas sanitárias, etc, no que respeita à economia, profundamente globalizada, dificilmente se consegue travar o contágio.
Como se pode perceber pelas declarações de alguns empresários ouvidos nesta edição do JORNAL DE LEIRIA – caderno sobre a Marinha Grande incluído – o desespero começa a invadir alguns estados de ânimo, confrontados que estão com a queda abrupta das vendas, nalguns casos paralisação total, e com obrigações para cumprir.
Entrámos, assim, num cenário que representa o pior pesadelo para qualquer empresário responsável e orgulhoso do que construiu, que é ver-se entre a espada da quebra de receitas e a parede das contas para pagar, obrigado a recorrer a mecanismos como o lay-off e, mesmo assim, podendo chegar a uma situação de incumprimento.
Excluindo os chico-espertos habituais que se preparam para beneficiar com todo este drama, a generalidade dos empresários e gestores sentirão um peso enorme sobre as costas, sabendo que as medidas que forem obrigados a tomar podem ter como consequência problemas sociais graves.
O aumento do desemprego será inevitável e muitas das pessoas colocadas em lay-off entrarão em incumprimento com a redução do salário, além de se poder antecipar que, passada a pandemia, muitas empresas terão dificuldade em manter-se, pelo menos com a mesma saúde com que entraram nesta crise.
Está na altura de a União Europeia mostrar o que vale e avançar com uma injecção substantiva de capital na economia e implementar um plano de investimentos que permita salvar a indústria e, por arrasto, as empresas em geral.
Pelo caminho, o Banco Central Europeu e os governos dos diferentes países, têm urgentemente que colocar o sistema bancário do lado da solução, facilitando contas caucionadas de apoio à tesouraria e créditos com juros mais baixos.
Se nada de radical for feito rapidamente, corremos sérios riscos de ter um drama social mais grave que o da crise de 2010-2014, da qual ainda mal estávamos refeitos.