Opinião
O avanço pela mão do verde e da cultura
As reacções à notícia de que o Jardim da Almoinha Grande vai avançar não serão certamente muitos dispares, sendo muito provável que a palavra “finalmente” tenha surgido na mente da maioria das pessoas.
Um “finalmente” que espelha quer a satisfação por Leiria passar a ter um espaço verde quer a impaciência provocada por duas décadas de espera desde o seu anúncio, havendo ainda, com certeza, muitos cépticos que preferem esperar para ver as árvores e os arbustos a saírem do papel, antes de largarem os foguetes.
De facto, não se percebe muito bem como é que uma cidade como Leiria, capital de distrito e uma das mais dinâmicas do país noutras áreas, chegou aos dias de hoje sem um espaço verde digno desse nome, deixando que cidades de menor dimensão, e muitas vilas, se antecipassem nesta questão tão importante para a qualidade de vida das populações.
Aliás, muitos têm sido os leirienses a procurar localidades vizinhas como Pombal, Batalha e, principalmente, a Marinha Grande, para usufruir dos seus espaços verdes, regressando a Leiria, certamente, com uma ponta de inveja.
Ou seja, é daquelas obras cuja necessidade entrava pelos olhos a dentro de todos e que não merecerá qualquer contestação, sendo muito difícil entender as prioridades dos executivos camarários que nos governaram nas últimas duas ou três décadas, que se decidiram sempre por outros investimentos em detrimento deste.
Apesar de tudo, como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca, pelo que o Jardim da Almoinha Grande é muito bem vindo e será muito bem recebido pelas pessoas de Leiria, que terão ali um equipamento capaz de alterar as suas rotinas de lazer e de uso dos tempos livres.
Mas também apetece dizer “venha já outro”, pois numa cidade com 60 mil habitantes e cerca de 8 mil estudantes no ensino superior, apenas um jardim saberá a pouco. Esperemos que aquela ideia que refere que o que custa é começar se aplique nesta questão. A Ronda Poética, que o Jornal de Leiria apoiou, terminou ontem após seis dias de muita poesia, que essa iniciativa levou a vários pontos emblemáticos da cidade.
Num balanço sintético, pode-se dizer que foi um êxito, pois além da qualidade dos participantes, que possibilitaram momentos incríveis, de enorme profundidade e beleza, o público aderiu de uma forma que poucos esperariam, ou não fosse a poesia um género literário de nicho.
No fundo, deu para perceber que sendo uma área cultural ainda seguida por uma minoria, há cada vez mais pessoas com interesse por ela, como, de resto, acontece com outras manifestações culturais.
São bons sinais num País onde a cultura tem sido menorizada ao longo dos tempos, apesar de se saber que foi o que diferenciou as grandes civilizações, do enorme potencial económico que oferece e de desenvolver a capacidade de pensamento e de espírito crítico das populações, aspectos determinantes num Mundo onde o populismo e a demagogia têm crescido de forma assustadora e perigosa.
Ficam os maiores parabéns para todos quantos participaram na Ronda Poética e para as instituições que a apoiaram e promoveram, com uma palavra especial para a Alexandra Vieira, para o Paulo Costa e para a Susana Neves.
*director do JORNAL DE LEIRIA