Opinião

O Protecionismo Global e os seus ecos em Portugal e Leiria

8 fev 2025 16:34

As tarifas impostas pelos EUA podem desencadear uma série de retaliações por parte dos países afetados, perturbando as cadeias de abastecimento globais

A economia mundial enfrenta, atualmente, uma maré de protecionismo que ameaça reconfigurar as dinâmicas comerciais estabelecidas. Recentemente, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México, e de 10% sobre os produtos chineses, justificando estas medidas como uma resposta à imigração ilegal e ao tráfico de fentanil.

Estas ações protecionistas não são inéditas, mas a sua intensidade e abrangência atuais são alarmantes. Nada de bom alguma vez veio do protecionismo. Na década de 1930, a Lei Smoot-Hawley, elevou tarifas a mais de 20 mil produtos nos EUA, desencadeando uma onda de retaliações globais, agravando a Grande Depressão. O comércio internacional contraiu 60% entre 1929 e 1932, aprofundando o desemprego e as falências.

Inevitavelmente, protecionismo e imperialismo (como o que assistimos hoje vindo da Rússia e agora dos EUA) levaram à segunda guerra mundial. Mais recentemente, a guerra comercial EUA-China (2018-2019) distorceu as cadeias produtivas e desacelerou o crescimento global, com o Banco Mundial a estimar perdas de até 0,5% do PIB mundial em 2019.

As tarifas impostas pelos EUA podem desencadear uma série de retaliações por parte dos países afetados, perturbando as cadeias de abastecimento globais e elevando os custos para consumidores e empresas, bem como gerar inflação. Sectores como o têxtil, componentes automóvel, cerâmica e vinhos podem ser afetados por estas tensões comerciais.

A indústria automóvel europeia, que se encontra numa situação frágil, poderá sofrer com a perda do mercado americano. O otimismo militante do autor desta crónica, faz pensar que talvez esta seja uma oportunidade de unir a Europa, melhorar a sua competitividade e capacidade de inovação e criar novos laços de comércio com regiões como o Canadá, América Latina, que serão afetadas pelas tarifas Trump.

Por outro lado, a pressão cultural poderá levar a uma fuga de cérebros  dos EUA e Portugal tem tudo a ganhar se captar estes imigrantes altamente qualificados. Apesar de iminente e gravosa turbulência, Leiria tem a oportunidade de reafirmar o seu dinamismo e posicionar-se como um polo de inovação e talento.

A força industrial local, aliada ao ambiente empreendedor da Startup Leiria, pode atrair novos investidores, investigadores e empresas afetados pelas políticas protecionistas, reforçando o tecido económico e social. Apostar na cooperação inter-regional e na diversificação de mercados — inclusive com países que também sentirão o impacto das tarifas norte-americanas — permitirá a Leiria afirmar-se como exemplo de resiliência, competitividade e abertura ao mundo.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990