Opinião
O que é que andas a ver?
Já viste aquela série? Viste o último episódio que saiu? E o novo filme?
E a estreia da semana passada, e a da semana que vem? Quem nunca? Quem nunca foi bombardeado com perguntas deste género pelos nossos amigos, que atire o primeiro spoiler. Curiosamente, eu - um gajo do cinema - responde sempre, negativamente, a qualquer uma destas perguntas. Não, não vejo series.
Não, não vi o último filme ‘XPTO’ de ‘não sei quem’. Neste momento, invariavelmente, porque tenho uma filha pequena. Mas mesmo antes deste milagre da natureza, a resposta era a mesma.
Sinto que ver séries é um desperdício de tempo. Uma pessoa depois fica agarrado àquilo e não faz mais nada. Ou porque tem temporadas e temporadas para ver, ou porque tem de se esperar pelo próximo episódio e não se consegue pensar em mais nada. Para não falar dos spoilers cheios de boas intenções, que nos deixam com raiva e a odiar aquela pessoa, pelo menos, até ao próximo episódio.
Depois, salas de cinema e filha de seis meses, parece não combinar muito bem, além de ser ilegal. Entretanto, já vos dei a entender que, afinal, não sou nenhum gajo do cinema coisíssima nenhuma. Um gajo do cinema tem de ver filmes! E dos bons! Mas não é por não ver as coisas que todos veem, que não vejo filmes. Muito pelo contrário.
Sou, orgulhosamente, membro de um clube fictício de pessoas que veem mais de mil filmes por ano. Isso mesmo, mil filmes. Mas dos pequenos, aqueles de curta-metragem, que não cativam grande interesse à maioria do público. Mas é isso, vejo mil ou mais. Neste momento tenho de ver novecentos até meados de fevereiro.
O que implica que, até lá, tenho de ver todos os dias, sem exceção, cerca de 15. É óbvio que, entre tanto filme, estarão deles menos bons e deles melhores, e deles até que estão na corrida aos Óscares da Academia.
Mas a melhor forma de aprender cinema é mesmo essa: ver de tudo, e é até mesmo com os menos bons que se aprende mais e melhor. A variedade é tanta; a diferença cultural; a forma distinta que cada realizador tem de contar histórias é impressionante…
É por isso que me sinto orgulhoso - e até um felizardo - por ter a oportunidade de ver tantos e tão variados filmes, que me parecem ter mais valor pelo seu esforço e entrega de quem os faz, do que essas séries e filmes que só existem porque rendem milhões.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990