Opinião
O que não se ensina nos cursos de Economia
A terra não é apenas um factor produtivo que deva ser utilizado em regime de pleno emprego. A terra, o solo, faz parte dos ecossistemas, é essencial para a biodiversidade, para a diminuição da temperatura média da Terra e para a sustentabilidade da espécie humana.
A abordagem clássica da teoria económica refere que, no âmbito do processo produtivo, as empresas utilizam os recursos produtivos (terra, capital e trabalho) para poderem produzir bens e serviços cujos atributos possam satisfazer as necessidades ilimitadas dos consumidores.
Faz parte também da teoria económica a noção de que os recursos são escassos e, nesse sentido, devem ser utilizados de forma, racional, eficiente e maximizadora, i.e., em situação de pleno emprego.
No entanto, é exactamente esta abordagem economicista dos recursos que tem trazido ao Planeta os seus diversos problemas ambientais.
O que se ensina nos cursos de Economia é apenas a noção de pleno emprego dos recursos e não a sua condição de regeneração e sustentabilidade.
A terra é um dos factores produtivos da economia.
Consiste nos recursos naturais (renováveis e não renováveis), bem como os terrenos utilizados para fins de exploração primária (agricultura, pecuária, minérios) e construção de habitações, prédios industriais e comerciais, e infraestruturas em geral, tais como estradas, ferrovias, portos, aeroportos, plataformas logísticas.
Trata-se, em larga medida, da exploração, para fins económicos, do solo, subsolo e águas.
O que a teoria económica não refere é que a terra tem outras finalidades.
Os solos armazenam e filtram a água da chuva, regulam o clima na sua relação com a cobertura vegetal (a terra desflorestada faz aumentar a temperatura) e são o maior reservatório terrestre de dióxido de carbono (CO2).
As plantas e os solos contêm cerca de três vezes mais CO2 do que a atmosfera.
Ou seja, o solo fértil é essencial para a vida sustentável da Humanidade e usamo-lo como se fosse uma fonte inesgotável.
Segundo o Soil Atlas (2015), devido ao uso indevido do solo, há uma perda anual de cerca de 24 mil milhões de toneladas de solo fértil.
Todos os anos, milhões de hectares de terras são perdidos devido a técnicas agrícolas inapropriadas (tanto a mecanização como a de subsistência, a compactação do solo e o uso de pesticidas e herbicidas), a desflorestação e a urbanização crescente.
Segundo Anthony J. Venables (2018), as projecções indicam que nos próximos 40 anos, nos países em desenvolvimento, a população urbana aumente em dois mil milhões de pessoas.
Até 2050, a população urbana africana poderá triplicar. No ano de 1700, cultivávamos cerca de mil milhões de hectares. Hoje em dia, em apenas 300 anos, são cultivados cerca de cinco mil milhões de hectares.
Quase 80% das terras agrícolas de todo o mundo são usadas para a produção de carne e laticínios (David Attenborough, 2020).
Um jovem aluno de Economia tem vindo a aprender apenas o paradigma dominante da teoria económica e isto já não se coaduna com a realidade.
A terra não é apenas um factor produtivo que deva ser utilizado em regime de pleno emprego.
A terra, o solo, faz parte dos ecossistemas, é essencial para a biodiversidade, para a diminuição da temperatura média da Terra e para a sustentabilidade da espécie humana.
E a Economia deveria ser leccionada sob a óptica do bem comum e em conjunto com a Geografia e a Ecologia.