Opinião
O cidadão português: um retrato económico
Portugal não é um país de fortes desigualdades na repartição da riqueza criada, o seu Índice de Gini é de 0,32 e o rácio S80/S20 é de 5 (em média, os mais ricos auferem 5 vezes mais do que os pobres).
Em 2018, a economia portuguesa criou cerca de 176 mil milhões de euros de Valor Acrescentado Bruto (VAB).
Essa riqueza monetária gerada pelos factores produtivos residentes no país foi utilizada para a remuneração sob a forma de salário, juros, lucros e rendas.
Cerca de 91 mil milhões de euros foram para o pagamento de salários e 85 mil milhões para juros, lucros e rendas.
A partir daqui, a primeira questão que se põe é: a repartiç ão da riqueza gerada pela actividade económica foi equitativa?
O indicador clássico da medição da repartição de riqueza num país é o Índice de Gini (que varia entre 0 e 1 – mais próximo de zero indica equidade distributiva e mais próximo de 1 indica iniquidade) e, consequentemente, o rácio S80/S20, i.e., o quanto que os 20% mais ricos da população auferem mais do que os 20% mais pobres.
Portugal não é um país de fortes desigualdades na repartição da riqueza criada, o seu Índice de Gini é de 0,32 e o rácio S80/S20 é de 5 (em média, os mais ricos auferem 5 vezes mais do que os pobres).
Portugal está dentro da média europeia, mas precisa, como de pão para a boca, da participação activa do Estado social.
Em 2018, a taxa de risco de pobreza no País, antes das transferências do Estado, foi de 43% (quase metade do País estava no limiar de se tornar pobre).
Após a intervenção do Estado, a taxa de risco de pobreza caiu de 43% para 17%.
Eis o Estado!
Sabem o que isto quer dizer?
Que, em Portugal, não há fortes assimetrias na distribuição dos rendimentos, mas ganha-se pouco.
Se não fosse o Estado, quase metade do País seria pobre.
E ganha-se pouco porque o País gera pouco VAB, i.e, não faz um uso ambicioso e competitivo dos seus recursos produtivos (neste exacto momento, 22% dos trabalhadores recebem o salário mínimo).
O rendimento nacional da economia portuguesa não é demasiado iníquo, é de baixo valor e tem dois destinos: o consumo e a poupança.
Em 2018, o montante de riqueza gerado para remunerar o trabalho (salários) foi de 91 mil milhões de euros e o consumo privado das famílias foi de 132 mil milhões de euros (1,5 vezes mais).
Em 2018, a taxa de poupança das famílias foi de 7% (em 1995 foi de 15%) e o crédito ao consumo foi de 6 mil milhões de euros com 4% desse valor contabilizado pelos bancos em malparado.
Sociologicamente, o cidadão português, criador de pouco VAB na economia, mal remunerado pelo patronato e quase pobre se não fosse o Estado providência, tem a necessidade de ser um europeu a 28 ( já quase a 27), mas, para o ser, tem de se endividar e, nalguns casos, não conseguir pagar o que deve.
O País não tem um problema de conflito de classes (como os comunistas querem insistentemente fazer crer), mas sim um problema organizacional.
Não temos uma engenharia social capaz de ser geradora de mais riqueza, e estamos sempre nesse fio-da-navalha entre o pouco dinheiro, o endividamento e a pobreza.