Opinião
A Economia do Hidrogénio – uma estratégia para a região
Inequivocamente, o modelo humano de dois séculos deve mudar de paradigma e trilhar o rumo da descarbonização.
Vivemos, hoje, sob o domínio do “paradoxo da proporcionalidade”.
De toda a massa viva do Planeta, cerca de 99,7% é composta de plantas e apenas 0,3% se destina aos seres humanos e aos demais seres vivos. E é este o “paradoxo da proporcionalidade” - quem domina a Terra é a espécie vegetal, mas somos nós, a diminuta espécie humana, que mais danos causamos.
Nos últimos 200 anos, o processo de desenvolvimento da actividade económica assentou no paradigma da utilização desmesurada dos recursos naturais e, por consequência, na criação de externalidades negativas ao ambiente, como é o caso do dióxido de carbono (CO2).
Em 2019, houve 34 mil milhões de toneladas métricas de CO2 emitidas na atmosfera, sendo a Ásia a região responsável pela metade das emissões e com particular ênfase para a China.
Inequivocamente, o modelo humano de dois séculos deve mudar de paradigma e trilhar o rumo da descarbonização.
Um dos vectores energéticos para a descarbonização poderá ser o hidrogénio (H2) verde produzido a partir de fontes limpas, como o sol e o vento.
O H2, enquanto fonte energética, também é poluente na medida em que é produzido a partir do gás natural e do carvão, i.e., de fonte fóssil.
Actualmente, cerca de 95% da produção mundial de hidrogénio (500 mil milhões de metros cúbicos) é de fonte fóssil. E, apesar de ter um baixo custo de produção, é extremamente poluidor.
Portanto, a transição do paradigma deve ser das fontes fósseis para o hidrogénio verde, produzido a partir das energias solar e eólica.
Do ponto de vista nacional, Portugal está no caminho certo em termos de política energética. Em 2019, cerca de 51% da energia consumida no País foi renovável, destacando-se a fonte eólica.
Portugal também já assumiu o seu compromisso internacional para a descarbonização a 100% no ano de 2050 através do documento Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050).
Estando o País posicionado de forma correcta em termos de política energética, restanos saber de que forma é que a região de Leiria poderá estar alinhada com a estratégia nacional.
Leiria tem os três factores produtivos para se tornar uma região inserida na economia do hidrogénio (recursos naturais, trabalho e capital).
De acordo com a Associação Portuguesa de Energias Renováveis, citada pelo Jornal de Leiria a 18/4/19, para dados de 2017, os 14 parques eólicos existentes em Leiria produziram energia equivalente a 28% do consumo total do distrito.
Ou seja, Leiria já é uma região bem encaminhada para as renováveis e tem condições geomorfológicas para receber novos parques eólicos, sobretudo na cadeia montanhosa a norte do distrito e, consequentemente, produzir, no futuro, o H2 verde.
Em termos de capital humano, pode exponenciar o conhecimento científico produzido no Instituto Politécnico
E em termos empresariais, o cluster dos moldes poderá estar na linha da frente da produção de moldes para os veículos movidos a H2.
Portanto, se Leiria está a pensar a sua estratégia para 2030, um dos vectores a considerar deverá ser o do hidrogénio verde. Há recursos.
Basta haver vontade e visão estratégica.