Opinião

Portugal e os seus recursos produtivos

15 nov 2019 10:58

Portugal tem um problema de desemprego jovem e que está inserido na fase mais digital da economia mundial.

O ritmo de crescimento das economias deve-se, em larga medida, ao modo como as sociedades se organizam no sentido de fazerem um uso eficiente (pleno emprego) dos seus recursos produtivos que são escassos (terra, capital e trabalho).

No decénio 2009/2018, Portugal perdeu, em média, todos os anos, cerca de 29 mil pessoas.

A taxa média de crescimento efectivo da população foi de – 2,7 permilagem, i.e., a cada ano, em média, o País perdeu cerca de três pessoas por cada mil residentes.

No que diz respeito aos factores produtivos c apital e trabalho, durante esse período, o País perdeu cerca de 250 mil pessoas da população activa e reduziu em 1,3 mil milhões de euros a Formação Bruta de Capital Fixo (investimento produtivo).

Como consequência disso, na década 2009/2018, o crescimento real médio do PIB anual foi de apenas 0,25%. É certo que, durante a última década, Portugal atravessou uma crise financeira internacional e um programa de ajustamento troika.

Mas é incontornável o diagnóstico de que o País necessita urgentemente de:

i) atenuar a sua perda demográfica; e

ii) ser um território atractivo de Investimento Directo Estrangeiro (IDE).

No entanto, ainda há um outro desafio imperioso que se impõe aos recursos produtivos da economia, sobretudo ao factor trabalho.

Se nas duas primeiras revoluções industriais (1760-1945), os recursos naturais não renováveis (carvão e petróleo) foram cruciais para a alavancagem económica dos países, nas duas últimas revoluções (a partir dos anos 90) o paradigma transitou dos recursos tangíveis para o conhecimento e os recursos intangíveis avançados.

No ano passado, a taxa de desemprego total do País esteve nos 7% ao ano, mas no grupo etário com menos de 25 a taxa foi de 20,3%.

Portugal tem um problema de desemprego jovem e que está inserido na fase mais digital da economia mundial.

A conectividade entre sensores, internet, os megadados (big data) os algoritmos preditivos (algoritmos de inteligência artificial), as máquinas inteligentes (machine learning) e a Internet das Coisas vai gerar uma profunda transformação no paradigma do uso do factor trabalho.

Em 2016, o Fórum Económico Mundial, em Davos, vaticinou que, nos próximos cinco anos, nas economias capitalistas ocidentais, haveria uma perda de cinco milhões de postos de trabalho devido aos avanços da tecnologia (desemprego tecnológico).

A actividade económica, no seu todo, está a transformar-se de forma acelerada.

E a questão que se põe é: Portugal está estruturalmente preparado para fazer parte dessa transformação? Principalmente o mercado de trabalho.