Opinião
O tempo da vida
Talvez não seja coincidência que os povos das regiões do globo onde o sol espelha a sua luminosidade, sejam mais afáveis, com um pensamento mais positivo
A menos de um mês do solstício de inverno – 21 de dezembro – registaremos o momento do ano em que as noites diminuem e passa a existir um conquistador aumento do dia, que afirma a luz natural e intrínseca, a claridade, a confiança de cada um e de todos nós.
O solstício de inverno passou a ser um fenómeno observado pelos povos antigos, sendo por estes considerado o ‘ponto de viragem’, o momento da ‘vitória da luz sobre as trevas’, o período da esperança de que as sementes, mesmo tendo ‘morrido’, cumprissem a sua essência criadora, germinassem e produzissem novas e abundantes colheitas, vitais para a continuidade da vida.
Talvez não seja coincidência que os povos das regiões do globo onde o sol espelha a sua luminosidade, sejam mais afáveis, com um pensamento mais positivo, com uma alegria e energia contagiante. Com o nascimento de Jesus (na mesma época) passou a haver uma nova ordem de esperança: a ‘salvação’ do Homem obtida pela redenção do Filho de Deus feito Homem.
Na prática, dirão alguns, tratar-se-á da mesma motivação, com a passagem do plano material para o plano espiritual, sob a égide de uma estrutura hierarquizada.
Chegados aos dias de hoje, em que a ciência e a espiritualidade se respeitam e mantêm a respetiva validade, não devemos confundir a luz interior com as luzes elétricas com que se enfeitam as árvores, as ruas e as casas. Fazer brilhar a luz interior pressupõe, à partida, procurar vencer os nossos medos, ultrapassar barreiras, partilhar e renovar práticas e valores que sejam coincidentes com a nobreza da nossa existência.
Num período em que atravessamos uma guerra, em que vivemos uma crise económica e energética, agravada pelo crescimento da inflação, em que as ameaças sobre nós se agigantam, necessitamos de fazer renascer a esperança num futuro próximo que, na volatilidade dos dias, se apresenta, muitas vezes, já amanhã. Não podemos perder de vista quem somos, individualmente, a que ‘tribo’ pertencemos, socialmente.
Urge reconhecer os timoneiros de cada ‘clã’ e com redobrada responsabilidade, como que numa cadeia de união, assumir posições conjuntas, resistir e viver. É essencial beber das raízes dos valores que nos alimentam, de revisitar os cânones das proporções clássicas dos seres humanos e no tempo presente, que nos convoca a viver, concretizar a vida com essência.