Opinião

Os racistas a saírem do esconderijo todos airosos

12 jan 2024 11:06

Devemo-nos preocupar com esta onda crescente de violência e hostilidade que muitas vezes é normalizada nas conversas entre amigos

Bem sei que o título poderá remeter o leitor para o tema relacionado com o racismo, mas permita-me começar por abordar algumas das características de um animal de caça que todos conhecemos – o javali. Também podemos designar este animal com outros sinónimos como por exemplo porco selvagem ou até mesmo javardo.

No verão, os javalis, escondem-se e apenas surgem à noite e no inverno aparecem com mais frequência durante o dia. Se os quisermos caçar devemos estar atentos às pegadas ou aos excrementos que vão deixando ao longo dos seus percursos. As crias deste animal, antes de se tornarem javardos, são denominadas de farropos. 

Os javalis embora sejam animais selvagens têm “invadido” algumas cidades e vilas, como aconteceu recentemente em Santo André, acabando por destruir os jardins e outros espaços públicos das localidades. É precisamente nesta “invasão” que encontro a relação evidente deste animal com os racistas que têm ganho coragem para aparecerem todos airosos e cheios de confiança com os seus pensamentos discriminatórios, violentos e preconceituosos, tentando normalizar esse tipo de linguagem.

O último relatório da Agência Europeia para os Direitos Fundamentais alerta para o crescimento do racismo na Europa e o nosso País não foge à regra. Recentemente um jovem cidadão indiano de 25 anos foi morto a tiro por motivos puramente racistas, segundo a investigação da Polícia Judiciária. Devemo-nos preocupar com esta onda crescente de violência e hostilidade que muitas vezes é normalizada nas conversas entre amigos e também nas diferentes plataformas das redes sociais, onde cada vez mais se observam comentários racistas e xenófobos. 

Na verdade, os racistas que têm surgido por aí não são nada mais nada menos que os farropos que seguem, cheios de confiança, a sua mãe javali que lhes dá palco para regurgitarem tamanhas javardices. 

A Junta de Freguesia de Santo André já colocou em prática um plano para afastar os animais selvagens, colocando comida em locais específicos onde mais tarde os animais serão caçados. 

Provavelmente teremos que usar uma técnica semelhante para afastarmos os racistas dos regimes democráticos e livres onde todos gostamos de viver. 

Devemos por isso estar atentos e revoltar-nos quando nos apercebemos que estamos perante alguém que saiu do seu covil e que quer mal aos outros só por causa da cor da pele, da nacionalidade ou da crença e religião de cada um.

Só assim a liberdade, a paz e o respeito pela diferença sobreviverão.