Editorial
Ouvidos surdos para os velhos do Restelo
No contexto europeu somos uma cidade pequena, não havendo razão para começarmos a ter os problemas das grandes cidades,
Gerador de forte polémica e contestado por um movimento de cidadãos, o Plano Estratégico de Mobilidade e Trânsito de Leiria, apresentado em 2016, foi ‘colocado na gaveta’ e o seu responsável, Lino Pereira, retirado do processo.
Entretanto, três anos passaram e pouco se voltou a falar do assunto, estando quase tudo por fazer, com os problemas de trânsito a agravarem-se e sem que Leiria dê sinais de mudança num assunto crítico dos tempos que correm, sobre o qual, um pouco por toda a Europa, a generalidade dos centros urbanos tem vindo a trabalhar e a introduzir medidas para reduzir o tráfego automóvel e o respectivo impacto ambiental.
Ou seja, se em 2016 estávamos atrasados face a uma tendência que será inevitável seguir, passados três anos mais atrasados estamos, continuando Leiria sem zonas pedonais que permitam as pessoas usufruir do espaço público, com as zonas residenciais a servirem de parques de estacionamento, as entradas/saídas da cidade entupidas parte dos dias, um défice de vias destinadas a bicicletas e, pior, sem que se perceba uma política consistente nesta área.
Como positivo temos o Mobilis, que funciona bem e tem tido adesão, havendo margem para crescer e ser solução para cada vez mais pessoas, e a esperança de que o serviço de bicicletas eléctricas disponibilizado pelo Politécnico de Leiria à comunidade académica possa ser adoptado pela autarquia e passar a servir toda a população.
É pouco, muito pouco.
Se Leiria tem ambições em ser uma cidade moderna e evoluída, no melhor sentido das duas palavras, terá de, com urgência, repensar a sua estratégia e deixar de decidir em reacção aos problemas, mas sim começando a antecipá-los e a introduzir medidas que os evitem.
No contexto europeu somos uma cidade pequena, não havendo razão para começarmos a ter os problemas das grandes cidades, assistindo ao seu avolumar sem nada fazer, sendo que temos a vantagem de poder perceber como foi resolvida a questão noutros locais e trazer a ideia que consideremos mais ajustada à nossa realidade.
O problema é que qualquer solução gerará sempre contestação por parte de algumas pessoas, o que, diz-nos o passado recente, tem sido inibidor de avançar para o que quer que seja, deixando-se que o problema perdure com receio de desagradar e perder alguns votos.
No entanto, diz-nos também a história, quem tenta agradar a todos acabará por não satisfazer ninguém, pelo que pede-se à Câmara coragem para assumir o que tem que ser feito, para que Leiria se alinhe com as melhores práticas que têm sido desenvolvidas noutras cidades.
Haverá, certamente, quem esperneie, mas o futuro mostrará quem tem razão, ou já todos se esqueceram da polémica que foi encerrar a praça Francisco Rodrigues Lobo ao trânsito?