Opinião
Papo-secos e TAP
Quando entras no avião, não podes deixar de sentir que, de alguma forma, chegaste a casa
Na ressaca de uma impressionante semana de férias na ilha açoriana de São Miguel, procuro nas notas digitais que fui apontando uma nesga de inspiração para vos escrever algo de minimamente interessante.
Há quase dois anos que não ia a Portugal e nunca tinha ido aos Açores, pelo que, ao intenso deslumbramento provocado pelo bocadinho de arquipélago que pude experienciar e os mais básicos clichés com que qualquer um dos vossos familiares e amigos que vivem fora vos brindam a cada querido mês de Agosto, apenas encontro apontamentos de uma profunda falta de interesse. Falta de interesse para vocês, mas de alguma maneira emocionantes para mim, diga-se.
Senão, veja-se: “Papo-secos: toda uma nação numa simples carcaça de pão”, “Pregos e bifanas, só em papo-seco”, “Podia passar um mês só a comer carcaças com manteiga”, “Porque é que não há papo-secos em Barcelona?”, “Faz-nos falta um snack-bar à portuguesa em Barcelona, mas sem concessões: pregos e bifanas no pão (carcaça), prego na frigideira, camarão cozido, sapateira, percebes e pouco mais”.
Como vêem, matéria definitivamente talhada para reflectir e aprofundar.
E, por entre odes ao verde estonteante das terras micaelenses, ou às acolhedoras poças de água quente, encontro também algumas linhas sobre aquela sensação de “chegar a casa” quando entras num avião da TAP… Não é a melhor altura para sequer escrever essas três letrinhas, pois não? Ainda assim, tenho que dizer que bastou-me ver que ia entrar no “Agostinho da Silva” na primeira parte da viagem, Barcelona-Lisboa, para me arrepiar um bocadinho. Na segunda parte, Lisboa-Ponta Delgada, entrei no “Ary dos Santos” e, outra vez. Arrepio.
Bem sei, bem sei, mas o que é que vocês querem? Há coisas que um gajo não consegue evitar. Por mais vezes que tenham gozado com o vosso tio da França, ou por mais que saibam que os tipos do marketing aproveitam isto muito bem para ir sacando milhões atrás de milhões ao Estado, a verdade é que a sensação existe.
Quando entras no avião, não podes deixar de sentir que, de alguma forma, chegaste a casa. E, ainda que a bordo não me tenham servido um prego em papo-seco (não me serviram nada, não se preocupem), uma coisa é certa: é um milhão de vezes melhor viajar na TAP que em qualquer low-cost da vida.