Opinião
Porquê não deixar a “política” aos “políticos”
Precisamos urgentemente de todos os jovens que se queiram envolver na procura de uma sociedade livre, digna, igualitária e com futuro
Há uns anos, numa aula do 10º ano, em momento mais descontraído, falávamos de “política” e partilhávamos essas ideias gerais, que todos comungamos um pouco, que a “política” não é para todos, que nem sempre a “política” se faz pelos melhores ideais e que, inclusivamente, alguns a fazem por interesses pessoais. Até disse jocosamente que seguir a “política partidária” era uma boa maneira de garantir o futuro.
E dei o exemplo de um percurso que lhes poderia ser bastante proveitoso na procura de soluções de vida: entrar numa juventude partidária, começar por colar cartazes, seguir o caminho de cargos e convites, engolir alguns “sapos vivos”, dizer que sim ou não conforme as conveniências, calar no momento certo, falar no momento decisivo, até se arranjar “alguma coisa de jeito”...
Uma conversa banal, mas que reconheci logo depois como pouco coerente e educativa, porque enquanto professor (re)transmitia de forma tão volúvel essa ideia que a “política” era, na maioria das vezes, desprestigiante e que as pessoas de bem, com consciência cívica apurada, deveriam evitar esses percursos. Seguir outros caminhos de intervenção cívica, menos a “política”.
O mais caricato aconteceu no final da aula. Um dos alunos esperou que todos os outros saíssem e perguntou-me em surdina: “Oh professor, quero pedir-lhe um conselho: qual é o partido em que acha que me deva inscrever para conseguir um bom emprego?” Conto esta história somente também para me redimir.
Se é verdade que durante algum tempo, enquanto professor, depreciei junto dos meus alunos a “carreira política” (até porque há sempre bons exemplos para o fazer!), verifiquei rapidamente que não estava a cumprir a minha missão. Em vez de educar, deseducava. Em vez de motivar bons jovens, trabalhadores, conscientes da sociedade em que viviam, cheios de ideais, para essa nobre e fundamental tarefa, carregada de sentido cívico, de procurar o bem comum e de garantir a democracia, terminava a conversa com “Não se metam nisso!”
Na realidade, era o pior que se podia dizer, reconheci-o rapidamente. Veiculava a ideia que para a “política” deveriam ir os menos aptos, os mais interesseiros, os menos bem preparados, os mais incultos, porque ela, a “política”, tal como nos aparecia, não interessava à maioria das pessoas bem formadas.
Felizmente também para a minha consciência, revirei logo que pude os argumentos e comecei a apelar: a democracia, deve motivar os jovens a “fazer política”. Precisamos urgentemente de todos os jovens que se queiram envolver na procura de uma sociedade livre, digna, igualitária e com futuro.