Editorial
Prémio para os derrotados
É, sem dúvida, um resultado que intrigará muita gente, nomeadamente os menos familiarizados com as dinâmicas político-partidárias, para quem a lógica ditaria que algo mudasse no sentido de tentar inverter a tendência de derrota.
É costume dizer-se que ‘em equipa que ganha não se mexe’, deixando-se as mudanças para os maus momentos, quando as derrotas acontecem.
No PSD de Leiria, no entanto, o lema parece ser algo diferente, do género ‘perder e continuar na mesma’. Ou seja, apesar de o PSD ter tido derrotas históricas nas duas últimas eleições autárquicas, deixando o PS a governar em maioria um território tradicionalmente social-democrata, nada mudou no sufrágio interno realizado no passado sábado, tendo Álvaro Madureira sido reconduzido para mais um mandato, com uma vitória esmagadora sobre os seus oponentes.
É, sem dúvida, um resultado que intrigará muita gente, nomeadamente os menos familiarizados com as dinâmicas político-partidárias, para quem a lógica ditaria que algo mudasse no sentido de tentar inverter a tendência de derrota, ainda mais sabendo-se que o PSD continua a dominar noutras eleições, como aconteceu nas Europeias e nas Legislativas.
No entanto, como mais uma vez ficou provado, a tal dinâmica político-partidária tem pouco de lógico, sendo a sua mecânica muito mais próxima de um clube reservado, onde tudo acontece ao sabor de esquemas, interesses, promessas e favores.
Um jogo em que nem todos estão disponíveis para entrar, o que, em boa parte, explica o afastamento cada vez maior da sociedade relativamente a essas estruturas.
Tudo estaria bem, não fosse o ‘simples pormenor’ de ser daí que emanam os candidatos que nos são propostos para os diferentes órgãos, da Assembleia da República às câmaras municipais, que, como se percebe, nos são apresentados na sequência de processos cuja lógica escapa à maioria das pessoas, em muitos casos com contornos pouco transparentes.
Nas próximas autárquicas teremos, portanto, muito provavelmente Álvaro Madureira ou alguém por si escolhido como candidato pelo PSD, pelo que, se a história se repetir, os sociais-democratas voltarão a perder num território que é seu, desperdiçando a oportunidade de ouro que o afastamento de Raul Castro lhes oferece para reconquistarem a Câmara.
Quem estará a esfregar as mãos será Gonçalo Lopes, que vê assim como única ameaça um eventual regresso de Hélder Roque à vida política.