Opinião
Quanto vale o interesse nacional?
Apesar das naturais dificuldades e esticar de corda, por questões meramente político-partidárias, estou esperançado que no final impere o necessário bom senso, para que o Pais não fique, mais uma vez, em ponto morto
Esta edição do Jornal de Leiria chegará às mãos de todos os leitores e assinantes no dia 10 de Outubro, uma das maiores referências cronológicas dos últimos tempos, por ser a data limite para o Governo apresentar a proposta do Orçamento do Estado para 2025. E já sabemos que não será uma proposta que resulte única e exclusivamente da sua vontade.
Face ao facto de não deter uma maioria parlamentar, o Partido Socialista, com o apoio do CHEGA, já condicionou as contas do País, para o próximo ano, com a aprovação do alargamento da dedução de despesas de habitação em sede de IRS, da abolição de portagens nas ex-Scuts e do abaixamento do IVA na electricidade.
É, por isso, muito ingrato estar a escrever este artigo de opinião a dois dias da apresentação do Orçamento, ainda para mais depois dos grandes avanços, após a comunicação de linhas vermelhas por parte do PS e da contraproposta irrecusável apresentada por Luís Montenegro.
Muitos têm proclamado o interesse nacional, até pela persistente e oportuna lembrança do Presidente da República para uma provável crise política caso não se verifique a aprovação do Orçamento.
Não tenho dúvidas que a maioria dos portugueses e o País não querem nem precisam de um novo sufrágio eleitoral.
Assim, julgo que não restam dúvidas de que o Governo já cedeu até onde podia, designadamente no tema do IRS Jovem, mas será mais difícil deixar-se condicionar na descida do IRC, tema central no programa eleitoral da AD.
Pedro Nuno Santos deixou-se encurralar nas suas afirmações de limites à negociação e agora anseia por uma saída airosa, sendo que não tenho grande dúvida de que o primeiro-ministro Luís Montenegro, mais uma vez, surpreendeu muitos pela sua postura de responsabilidade e de desígnio nacional.
Apesar das naturais dificuldades e esticar de corda, por questões meramente político-partidárias, estou esperançado que no final impere o necessário bom senso, para que o Pais não fique, mais uma vez, em ponto morto, num momento em que se apresentam inúmeros desafios e objectivos a cumprir.
Quem não esconde grande nervosismo com toda esta incerteza é André Ventura que já disse quase tudo e o seu contrário sobre a posição do CHEGA, relativamente ao Orçamento. Até se diz que alguns dos seus dirigentes estariam disponíveis para votar favoravelmente o Orçamento, querendo parecer ser o partido responsável, mas não tenho dúvida nenhuma de que essa tendência é só para que muitos dos seus 50 deputados não voltem para casa mais cedo, num cenário de eleições legislativas antecipadas.
Por isso, talvez até possa acontecer que ainda não seja esta semana que possamos assistir ao desfecho final, mantendo-se viva esta incógnita durante a discussão na especialidade, esperando que no último minuto possa vencer o interesse nacional.