Opinião

Quatro álbuns para Dezembro

17 dez 2022 16:21

Se lhes quiserem dar o tempo de uma audição atenta, vai valer a pena

Já não vos trazia música nova, por esta via, há algum tempo. Estamos na altura em que o mundo fervilha com infindáveis listas de melhores discos do ano, mas, com franqueza, é minha convicção que muitas delas são feitas por pessoas que só os ouviram na diagonal, sem a concentração e o tempo que (alguns) merecem. Não faço ideia se os quatro discos que recomendo este mês constam nalguma dessas listas, mas uma coisa garanto-vos: se lhes quiserem dar o tempo de uma audição atenta, vai valer a pena.

1 – “Lur Hezea” é o segundo álbum de ORBEL, banda oriunda da comuna francesa de Baiona. A sua sonoridade, fria, tribal, aqui e ali soturna, mistura elementos clássicos com apontamentos eletrónicos, criando atmosferas despojadas de qualquer cor e onde assenta uma voz feminina algo assombrada. O som vigente é etéreo e misterioso, adensado pela particularidade de cantarem em Basco. Bela surpresa para os amantes de sonoridades mais obscuras!

2 – “Boleros Psicodélicos” é um dos dois álbuns que ADRIAN QUESADA, músico, compositor e multi-instrumentista de Austin, Texas, editou em 2022 (o outro é instrumental e chama-se “Jaguar Sound”). Tal como o título induz, tratase de um disco de sonoridade latina, onde os “boleros” são travestidos de um certo psicadelismo pop em que, entre outras, brilham as vozes de Rudy de Anda, Mireya, Ile ou Angelica Garcia. Delicioso!

3 – “Roya” é o novo e terceiro álbum da israelita de origem iraniana LIRAZ (Liraz Charhi, de verdadeiro nome). Aqui somos convidados a entrar no mundo sofisticado do médio-oriente, onde canções esculpidas entre a filigrana arabesca e a modernidade que elementos electrónicos conferem, emergem juntos ao lado da brilhante e graciosa voz da autora. Exótico e contagiante!

4 – “Play Terry Riley In C” é o mais recente álbum dos suíços THE YOUNG GODS e é um conjunto de estruturas rítmicas e melódicas que replicam, à sua maneira, “In C”, de 1968, uma das composições mais aclamadas que o californiano Terry Riley compôs. O álbum, propositadamente sem a icónica voz de Franz Treichler, é um verdadeiro compêndio das sensações que ritmos de uma bateria prodigiosamente bem gravada e sequências electrónicas minimalistas e repetitivas podem conferir. Os históricos helvéticos já haviam editado algo do género quando em 1991 decidiram homenagear Kurt Weill com um álbum inteiro só com versões das suas canções. Primeiro estranha-se, depois...