Opinião
Quem quer ser político?
Num País democrático como Portugal, é assustador perceber que o afastamento das pessoas face à política, principalmente nas gerações mais jovens, é cada vez maior.
O dado mais visível do problema é a abstenção, não causando já surpresa a ninguém que em alguns actos eleitorais mais de metade dos eleitores prefira o sofá ao exercício do direito de voto, uma realidade bem distinta da do pós 25 de Abril, quando a abstenção não ultrapassava os 10%.
No entanto, por trás da abstenção o problema assume contornos ainda mais alarmantes, com a esmagadora maioria das pessoas a mostrar um completo alheamento e desconhecimento sobre política, não sendo de estranhar, portanto, que sejam também cada vez menos, principalmente entre os mais jovens, os que se mostram disponíveis para a exercer activamente.
No fundo, entrou-se na lógica da pescadinha do rabo na boca, pois as pessoas desinteressam-se e afastam-se porque não se revêem na forma de fazer política. Afastando-se, criam condições para que se mantenham os mesmos, com a mesma forma de fazer. Mantendo-se os mesmos, o afastamento é cada vez maior, reduzindo-se o leque de opções para quem vota.
Como é óbvio, o perdurar desta lógica no tempo levou a que o nível médio de competência e honestidade da classe política tenha baixado consideravelmente, vendo-se hoje pessoas sentadas no Parlamento que nunca tiveram uma ideia própria na vida e cujo lugar mais indicado seria num qualquer banco de jardim a jogar às cartas.
Aliás, os debates para as eleições autárquicas que se aproximam, alguns deles transmitidos pela televisão, têm sido a prova disso mesmo, com boa parte dos candidatos a mostrarem um profundo vazio de ideias e um desconhecimento inaceitável sobre assuntos fundamentais, para não falar das dificuldades de comunicação onde os atropelos à língua portuguesa são mais que muitos.
A verdade é que, apesar de confrangedor, alguns desses candidatos assumirão a gestão de parte das nossas autarquias, muitas delas de elevada dimensão e importância, e serão eles a definir o futuro das suas populações.
Ou seja, a política influencia demasiado as nossas vidas para que possamos dar-nos ao luxo de ‘não querer saber’ e de deixar aos outros, aos do costume, um tão grande poder sobre o futuro colectivo, sobre aquilo que a todos diz respeito e que ditará o nível da qualidade de vida de cada um.
É urgente, portanto, que se promova uma reflexão alargada sobre o assunto e que se avance com medidas para inverter esta tendência que não nos leva por bom caminho.
Para começar, talvez se deva tornar a actividade política mais atractiva e acabar com o discurso populista e demagógico de que os políticos são todos iguais, que ganham de mais, que nada fazem, etc etc.
Se queremos ter os melhores a dirigir os nossos destinos, teremos que criar nessa actividade condições de remuneração e de credibilidade para os atrair. Como está, a política só tem interesse para os carreiristas, para os funcionários públicos e para que quem se quer servir dela, salvaguardando a minoria que a abraça com verdadeiro sentido público.
* Director do Jornal de Leiria