Opinião
Raj e a importância maior do seu certificado de mérito escolar numa escola em Leiria
A história, essa grande mestra, sussurra-nos que as nações que verdadeiramente prosperaram e se tornaram grandes foram aquelas que souberam abrir as suas portas
O meu coração palpitou. Inesperadamente, uma mensagem chegou até mim. Era a mãe de Raj, um antigo aluno que marcou sempre as minhas aulas com o seu sorriso tímido e gentil. “Professor, o Raj teve média de 4,73 no final do 5º ano!”. Aquelas palavras traziam a doçura e a determinação que sempre caracterizaram aquela mãe. Raj é indiano, e a sua conquista ganha contornos ainda mais tocantes quando pensamos no percurso que ele e a sua família atravessaram para encontrar um novo lar.
Esta boa notícia fez-me mergulhar não só nas memórias daquela sala de aula, mas também nas páginas da nossa história. Recordei Vasco da Gama que, em 1498, desvendou o Caminho Marítimo para a Índia. Naquele período da história de grandes descobertas, o seu feito foi erguido como um monumento à coragem de Portugal em expandir os seus horizontes. A Índia era olhada não com desconfiança, mas como uma terra de riquezas.
Passados mais de cinco séculos, uma parte da nossa sociedade parece ter esquecido as lições da história. Olhamos para os descendentes daqueles povos com reservas e, por vezes, com um desprezo que nos devia envergonhar. Como pode uma nação, que tanto se orgulha dos seus feitos marítimos fechar os olhos e o coração ao valor inato e à imensa contribuição dos povos que, hoje, batem à nossa porta?
Raj e a sua família e milhares de outros imigrantes vêm para Portugal não por capricho, mas em busca de esperança, de uma vida digna e de oportunidades que os seus países de origem nem sempre conseguem oferecer. E o que eles trazem é um tesouro incomensurável: uma força incansável de trabalho, uma riqueza cultural que nos pinta com novas cores e nos abre a novos sabores, perspetivas que nos forçam a questionar e a crescer, e, acima de tudo, uma paixão pela vida e uma vontade inabalável de construir um novo futuro aqui.
É, pois, um imperativo moral e estratégico que a nossa sociedade encare esta questão de frente e reajuste a sua perceção. Devemos varrer para bem longe o preconceito e abraçar a curiosidade, substituir o desprezo pelo respeito mais profundo e combater a xenofobia com a mais genuína solidariedade.
, valorizar o contributo de cada braço e de cada mente, independentemente da sua proveniência. Que a mensagem pura e vibrante do meu aluno Raj e de outros tantos como ele, se transforme num farol, lembrando-nos que o verdadeiro esplendor de uma nação reside na sua capacidade de acolher e de celebrar a inesgotável riqueza da diversidade humana.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1900