Opinião
Saúde Mental, saúde integral
É preciso continuar a trazer o tema da saúde mental para a esfera pública. É preciso fazer psicoeducação séria e não apenas produzir conteúdo leigo para as redes sociais
A semana passada celebramos o Dia Mundial da Saúde Mental e nesse dia os números não deixaram de impressionar pela negativa. Não só a saúde mental é o parente pobre da saúde como temos os piores números ao nível dos profissionais de saúde. Que desde o Covid o SNS tem estado a funcionar para além do seu limite já nós sabíamos e o custo é para os profissionais.
Portugal é o terceiro país europeu com maior prevalência de depressão e ansiedade entre médicos e enfermeiros segundo inquérito da OMS – Organização Mundial de Saúde. O que vai acontecer quando já não tivermos ninguém para trabalhar no nosso SNS? Quem vai cuidar dos nossos cuidadores doentes? É preciso um colapso total de hospitais para finalmente começarmos a fazer algo pelos nossos profissionais de saúde? E eles dispensam as palmas quando por exemplo os números de agressão e insegurança continuam a aumentar.
De forma paralela, as nossas escolas não estão melhores. Dois suicídios na mesma turma e um pacto entre 4 jovens para cometer suicídio? O que nos diz isto enquanto sociedade? Estamos a pôr o nosso futuro doente quando não temos respostas para os jovens.
É preciso continuar a trazer o tema da saúde mental para a esfera pública. É preciso fazer psicoeducação séria e não apenas produzir conteúdo leigo para as redes sociais ou deixar que sejam os jovens a educarem-se sozinhos sobre saúde mental. Fala-se muito de ansiedade por exemplo. Mas será que sabemos verdadeiramente atuar? Como ajudar alguém que esteja em crise de ansiedade ou mesmo ataque de pânico? Como prevenir estigmatização e bullying?
Nem vou comentar o número insuficiente de psicólogos nas escolas. Mas a necessidade de programas preventivos e de psicoeducação. E quando acontecem situações destas, há que reunir com pais para que possam estar atentos aos filhos, há que ter em atenção estes fenómenos dominó e prevenir a normalização do suicídio. Porque pelos números de um relatório de 2022 em que registamos a maior taxa de suicídio entre jovens do últimos 20 anos até parece que é algo normal. Mas relembro aquilo que é comum não é necessariamente normal.
A nossa sociedade está doente. E não existe saúde sem saúde mental. Há que olhar para a saúde de forma integral, sistémica. E não apenas no sentido remediativo. Pois temos soluções para tudo menos para a morte. Prevenção e educação em saúde mental devem ser as palavras de ordem!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990