Opinião

Será?

11 jul 2025 16:28

Chegada a Leiria dei comigo a logo ser hostilizada por uma colega, numa primeira reunião sindical que dirigi no antigo liceu

A decisão de deixar Coimbra rumo a Leiria, para mim, foi dolorosa! Muito influenciada pela opinião de uma amiga que me dizia ser a sociedade leiriense muito materialista e socialmente muito virada para as aparências, amiga essa, ainda por cima, pertencente a uma família da velha guarda, brasonada e conservadora, fez-me temer que não iria aguentar o deixar na “Lusa Atenas” os amigos e as nossas “sabatinas” responsáveis por nos sentirmos a dar continuidade aos ideais humanistas do pós “25 de Abril”!

E, de facto, chegada a Leiria dei comigo a logo ser hostilizada por uma colega, numa primeira reunião sindical que dirigi no antigo liceu. Sim, hostilizada apenas por eu ali estar como representante de um sindicato conotado com a esquerda. Claro que tal não me surpreendeu atendendo à ideia que já me tinha sido comunicada de que, na sociedade leiriense, manifestar ideais de esquerda não seria de bom tom.

Porém, a coisa agravou-se quando nessa mesma escola, numa segunda reunião, a dita professora resolveu virar-se para mim e com extrema simpatia me dizer que desconhecia o facto de eu ser a mulher do doutor “tal” e a partir daí me passar a tratar com imensa amabilidade!

Entretanto, no meio deste meu desalento e algo espantada, comecei a aperceber-me da forma sempre tão correta e prestável como a Caixa de Crédito Agrícola de Leiria respondia às solicitações de vária ordem do meu sindicato. Pela primeira vez desde a minha chegada a Leiria uma instituição que nada tinha a ver com a luta pela dignificação da carreira docente era cordial e mostrava respeito pelo trabalho do meu sindicato!

Ora, esse valor fundamental que é o respeito ter chegado até mim por parte de um banco deixou-me muito curiosa e pus-me à procura dos porquês de tal atitude e de quem seria o presidente dessa instituição. E foi assim que descobri o senhor Mário Matias!

Pelo que dele me contaram pessoas com quem ia falando e pelo que, entretanto, fui conhecendo do seu percurso e da sua obra, percebi tudo: a obra concreta por ele já edificada era apenas um dos sinais visíveis da sua grandeza como ser humano!

Desde então e apesar de o senhor Mário Matias nem sonhar, ele passou a ser, para mim, uma das figuras inspiradoras de Leiria e é por isso que fiquei muito triste e inquieta ao saber que foi “dispensado” de presidir ao Conselho de Administração da Fundação Caixa Agrícola de Leiria.

Incrédula com tal decisão, temo que os valores que comandaram o afastamento desse homem maior estejam, fatalmente, também muito afastados daqueles que eu quero ver eternizados nas novas gerações. Será? 

Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990