Opinião
Teorias rurais
O que dizer das ardentes desventuras do rei Sebastião, que durante a infernal Peste Negra decidiu animar exércitos e guiá-los para outras causas.
Brindada com mais uma epidemia, a cidade de Leiria e suas bonitas aldeias adjacentes voltou a resistir!
Contra a expectativa de alguns agoirentos animais voadores, conseguimos avançar, sem rebuço, para uma primavera de mera calamidade.
As liberdades e garantias estão de volta!
A constituição, apoiada pela distribuição de máscaras e viseiras, volta a reger os destinos de uma turba animada com a possibilidade de voltar à fábrica e de voltar a tirar a roupa na praia.
Este mesmo sentimento foi há muito assinalado por outras vítimas.
Veja-se quando a tifoide flagelou Atenas há quase 2500 anos: “Uma vez que consideravam que a vida das pessoas e riquezas eram igualmente transitórios, resolveram que valia a penas gozar rapidamente o que lhes dava prazer.
Ninguém estava interessado em sofrer com antecipação por aquilo que parecia honroso porque, não sabendo se iam morrer antes de alcançar esse objectivo, o que quer que desse imediato prazer ou a isso levasse, passava por nobre e útil” (Tucídides, Livro II, capítulo 53).
Lá, como cá, peste conjugava-se com fome (“limós”).
Tucídides, contudo, fez destas misérias simples anotações a um quadro muito mais amplo onde guerra e política se impuseram como os verdadeiros marcadores históricos.
O que dizer das ardentes desventuras do rei Sebastião, que durante a infernal Peste Negra decidiu animar exércitos e guiá-los para outras causas.
O mesmo se constata para 1918, quando a Europa se entreteve a guerrear por entre outra terrível pandemia.
E se em isolamento efectivo sempre se decretou esperança, o que dizer do actual confinamento com Zoom e Facetime?!
Sem futebol e sem Feira de Maio?!