Opinião
Voltar a votar
A direita digladia-se no radicalismo, a esquerda na disputa da paternidade e herança da geringonça
Antecipando a gostosa chegada da Primavera, temos agendada mais uma visita às urnas no próximo domingo. A data parece auspiciosa, coincidindo com a celebração dos 50 anos da alteração de regime político.
Em qualquer modalidade, meio século de existência consagra já um momento de maturidade. Mas o passar do tempo pode levar também a algum acomodamento, muito embora a imperiosa necessidade de alterar algumas circunstâncias, conhecidas de todos.
Tudo isto é, na verdade, surpreendente, ao pensarmos um território com (pelo menos) 900 anos de história, iluminado por uma capital que figura entre as mais antigas cidades continuamente habitadas.
Ao longo deste itinerário encontraram-se certamente alguns problemas, venceram-se um par de decisivas batalhas, e uma diminuta população sempre superou os constrangimentos de uma rara geografia.
A chegada (relativamente incólume) desta unidade sociopolítica ao mês de Março de 2024 pode facilmente considerar-se um milagre, ainda que marcado por muitos avanços e outros tantos recuos.
Resta assim continuar o estranho caminho, e voltar a subir as escadas dos Paços do Concelho, ou visitar as instalações provisórias instaladas na EB D. Dinis desde 1979, elegendo mais uma vez quem encaminhar para uma temporada no bairro de São Bento.
Por entre os grupos que se organizaram para governar nos próximos tempos, encontramos mais de 4 mil candidatos, uns seguramente mais capacitados do que outros. Ambas as receitas propostas, porém, parecem esgotadas.
A direita digladia-se no radicalismo, a esquerda na disputa da paternidade e herança da geringonça. À direita pensa-se em alienar o que sobra do Estado, à esquerda desconhece-se o que fazer com Estado, para lá do que tem sido feito.
Uns e outros, ideológica e programaticamente, parecem desfasados do tempo que vivemos, algo que ajuda a explicar, porventura, o número recorde de eleitores decididos a votar, sem saber em quem o fazer.
Por entre tão duvidosa população sairá enfim um governo, sendo segura a aposta de que também este não voltará a cumprir os 4 anos de governo.