Sociedade
Bênção dos capacetes juntou 180 mil pessoas no Santuário de Fátima
Foi a maior peregrinação dos motociclistas à Cova da Iria. Na cerimónia, o patriarca de Lisboa evocou os "nefastos" incêndios e pediu oração pelas vítimas
Cumpriu-se, este domingo, mais uma bênção dos capacetes no Santuário de Fátima. Na cerimónia, estiveram presentes cerca de 180 mil pessoas, número que faz desta a maior peregrinação dos motociclistas à Cova da Iria, iniciativa que se realiza desde 2014.
É, dizem os participantes, um momento de pedir protecção à Virgem e de rezar pelos amigos que se perderam em acidentes. Este ano, foram também lembradas vítimas dos fogos que, na última semana, atingiram o país. Na homilia, o patriarca de Lisboa, Rui Valério, que presidiu à celebração, apelou à oração por aqueles "cujas vidas foram ceifadas" pelas chamas e no seu combate. O patriarca pediu ainda “uma palavra e um abraço de solidariedade, de proximidade e de conforto” para as famílias e amigos das vítimas dos incêndios.
Rui Valério lembrou também os focos de guerra em várias partes do mundo, afirmando que a “peregrinação (…) ao encontro de Deus é um hino de esperança na humanidade, não obstante os conflitos mundiais – como na Ucrânia, no Médio Oriente, na República Centro Africana – ‘lugares da derrota da própria humanidade’, como diz o Papa Francisco”.
Já aos motociclistas, o patriarca apelou à adopção de comportamentos adequados na estrada. “A segurança rodoviária, a atenção e o cuidado na condução são, não obstante comportamentos incoerentes de tantos”, valores que os motociclistas devem assumir e praticar, defendeu o bispo.
"Os motociclistas têm o rótulo de 'arruaceiros', mas são pessoas de muita fé e solidários. Viemos pedir protecção a Nossa Senhora e lembrar amigos que já faleceram. Já perdi três no asfalto", confidenciou Martinho Lopes que se deslocou a Fátima com um grupo com quase uma centena de pessoas provenientes de Moreira de Cónegos.
Já Marco Morgado, de 30 anos, e Humberto Silva de 58 anos, dois amigos residentes no Gavião, distrito de Portalegre, participaram, pela primeira vez, na bênção dos capacetes e ficaram rendidos à iniciativa. "Fátima e este evento em particular é algo que todo o motociclista deve experienciar. Quem tem fé, saí daqui reconfortado. Buscamos protecção, porque andar de mota é um risco", partilha o mais jovem, frisando, no entanto, que "não se pode deixar tudo nas mãos de Nossa Senhora". "Temos de cumprir a nossa parte. A segurança começa em nós", afirma.
Causa solidária
Tal como em anos anteriores, esta peregrinação teve um cariz solidário. Este ano, parte das receitas destinam-se a apoiar Marco Vitorino, de 23 anos, residente em Peniche, que ficou paraplégico na sequência de um acidente de moto em 2021.
"O Marco precisa de uma cadeira de rodas mais leve, para facilitar as transferências para o carro, que já foi adaptado, e para circular na rua de forma autónoma", explica Carlos Pereira, presidente da Associação Bênção dos Capacetes.
O dirigente destaca ainda o facto de o evento ter associada uma campanha de sensibilização rodoviária dirigida aos motociclistas. "Os acidentes com motociclos continuam a aumentar e a fazer mortes. Se as campanhas de sensibilização tocarem alguns motociclistas, podemos dar por cumprida a nossa missão", refere Carlos Pereira.
Nos últimos três anos, os acidentes envolvendo motociclos fizeram 313 vítimas mortais e 1848 feridos graves em Portugal, segundo dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) revelam que, nos últimos três anos. Já este ano, entre Janeiro e Maio, houve 47 óbitos em resultado de sinistros com motos, de acordo com o último relatório da ANSR