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Bons Sons, o festival de Verão que é uma espécie de arruada

11 ago 2022 16:10

Cem Soldos | Encontros na aldeia estão de volta e prometem maior proximidade entre artistas e público

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Entre 12 e 15 de Agosto, as ruas, largos e igreja de Cem Soldos transformam-se em palcos para a música portuguesa
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Jacinto Silva Duro

No ar, além do barulho incessante de martelos a acertar na cabeça de pregos, há riso, gritos, e um cheiro a tinta nova.

As ruas estreias de Cem Soldos, a grande praça principal da aldeia e a sede do Sport Club Operário de Cem Soldos (SCOCS) parecem partes de uma colmeia, onde todos estão ocupados a ultimar tarefas antes da chegada à página no calendário que marca a quinta-feira, dia 11 de Agosto de 2022, e o aquecimento para o Bons Sons.

A partir de amanhã, dia 12, todos os caminhos vão dar à aldeia nos arredores de Tomar, para vários dias cheios de música, de animação, de artes e de muitas actividades para todas as idades.

“O regresso do Bons Sons, após a suspensão devido à pandemia, é um grande desafio, uma vez que a organização é inteiramente voluntária e assente no trabalho de uma aldeia” explica Miguel Atalaia, director artístico do festival e presidente do SCOCS, a associação que organiza o evento.

A iniciativa que acolhe em exclusivo bandas e artistas de origem nacional começou por se realizar a cada dois anos, uma semana antes da festa da paróquia.

Depois, em 2015, passou a ser anual, e, desde então, jamais, tinha acontecido a aldeia estar dois anos sem o seu festival de Verão.

“Este ano, faremos um regresso ao modelo tradicional e queremos fazer jus à nossa história. A população de Cem Soldos cresceu um bocadinho, para as 650 pessoas, e serão os habitantes locais a acolher 35 mil pessoas, durante quatro dias”, assegura o director artístico, sublinhando que um dos fins do Bons Sons é o desenvolvimento local, através da fixação dos mais jovens e da potenciação da economia local.

Em Agosto, dentro do recinto fechado da aldeia, as ruas, largos e igreja transformam-se em palcos de divulgação da música portuguesa, onde o público descobre projectos emergentes e reencontra músicos consagrados.

Haverá ainda actividades paralelas como as que resultam de parcerias com outras associações criativas como o Materiais Diversos, que levará Movediço, de Marta Cerqueira e de Simão Costa, espectáculo sobre “o que se move, o que muda de lugar, o que é inconstante, o que não está fixo”, no dia 12, no Auditório Agostinho da Silva.

No dia seguinte, no mesmo local, A besta, as luas, de Elizabete Francisca, enuncia, através de gestos e sons, uma “representação possível da geografia política de um corpo não submisso”.

Neste Bons Sons haverá passeios nos Burros de Miranda, haverá curtas-metragens, e haverá até um audiowalk, onde os participantes poderão passear, através de sons, pela aldeia e mergulhar na sua história.

Na Casa sem Tecto Amália, entre 12 e 15 de Agosto, o fotógrafo João Gigante, através do projecto “viste?”, fixa a “loucura de criação do Bons Sons, no contexto por aldeia”, na exposição Operários da Cultura, captando Cem Soldos, os voluntários e as montagens nos dias antes da abertura de portas do festival.

A mostra dará igualmente a conhecer este novo espaço expositivo. Como noutras edições, os debates tomam conta do Largo do Rossio, desta vez, pela mão da plataforma independente de jornalismo, cultura e educação, Gerador, em duas conversas sobre comunidades e territórios do interior.

Com moderação de Ana Catarina Veiga, a primeira conversa acontece a 14 de Agosto, sob o tema “Como pode a arte fazer parte do dia-a-dia das comunidades?”, com participação de João Ferreira, da Associação Cultural CISMA, Ana Vulcão, coordenadora e co-programadora do Festival Pé na Terra, e o músico Edgar Valente.

A segunda conversa, avalia “O Cinema como Factor de Valorização do Território – Êxodo Urbano: estará a tecnologia a permitir uma reaproximação cultural entre o litoral e o interior do país?” e junta Tiago Pereira, d’A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, António Aleixo, realizador do filme Dispersos pelo Centro, e Luísa Pinto, responsável pelo projecto Rostos da Aldeia que cartografa histórias de resistência ao despovoamento no interior do País. Será no dia 15.

“Teremos ainda actividades para famílias, como a música para crianças e bebés, a Rádio Miúdos, onde os mais novos entrevistam artistas e fazem reportagens ou o Espaço Criança”, exemplifica Miguel Atalaia.

Em palco, estarão artistas como os Motherfluters, Omiri ou Marta Ren, no dia 12, e Bia Maria, David Bruno, Cassete Pirata, Pluto ou Cabrita, no dia 13.

Para 14 de Agosto, a organização convidou, entre outros, A Garota Não, Fado Bicha, Rui Reininho, Sebastião Antunes & Quadrilha, e guardou para o último dia um conjunto de bandas e artistas a solo onde se pode encontrar propostas tão díspares como as Cantadeira do Vale do Neiva, a 5.ª Punkada, B Fachada, Lena de Água ou Bateu Matou.

Em relação a 2019, o Bons Sons voltou a um “modelo confortável”, com menos palcos e com a programação a passar para o chão da rua, na lógica de habitar a rua e promover a proximidade entre artistas e público.

“Numa espécie de arruada”, como resume Miguel Atalaia.