Sociedade
Brigada do Mar faz "descontaminação da orla costeira" entre São Pedro de Moel e a Figueira da Foz
Em dia e meio, os voluntários já recolheram 3,5 toneladas de lixo
A Brigada do Mar está a realizar uma acção de "Descontaminação da orla costeira" entre São Pedro de Moel, no concelho da Marinha Grande, e a Gala, na Figueira da Foz.
Os trabalhos começaram ontem, sexta-feira, dia 25 e terminam amanhã, dia 28, domingo.
Em dia e meio de limpeza de detritos de plástico, vidro, cordas, redes e restos de artefactos de pesca, os voluntários já recolheram várias toneladas de lixo.
Durante esta manhã, a brigada percorreu a costa entre o Casal Ventoso (Praia do Pedrógão) e o Osso da Baleia e vão aproveitar a maré-baixa, mais daqui a pouco, para limpar a Praia Velha, de São Pedro de Moel.
Ontem, os trabalhos foram feitos na Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, e, amanhã, o objectivo é regressar ao Casal Ventoso e seguir até à Costa de Lavos.
Hoje, na lista de "monstros" recolhidos na praia há um frigorífico e 600 alcatruzes de pesca ao polvo. Em 2018, por comparação, era rara a operação de limpeza que não recolhesse 2000.
"Conseguimos ver algum progresso na limpeza", afirma Simão Accioli, o mais antigo voluntário na Brigada do Mar.
Contudo, embora este tipo de "achados" encha o olho, os detritos de origem humana que, cada vez mais se encontra a contaminar os areais e os ecossistemas costeiros são os microplásticos e, este ano, os voluntários da Brigada do Mar constataram que as marés trouxeram bastante lixo.
Simão, que é também um dos fundadores, diz que, desde ontem, os dez elementos, acompanhados por duas moto-quatro com atrelados recolheram cerca de 3,5 toneladas de detritos.
"É incrível! Desde 2018, quando iniciámos as operações na zona ainda não tínhamos visto uma tal concentração de microplástico. Aliás, em 14 anos de limpeza, foi um momento a que não estávamos habituados", afirma, adiantando que há, além de plástico que estilhaçou por acção dos elementos, muitos pellets de plástico utilizados pela indústria de plástico.
"É muita matéria-prima que se perdeu de alguma forma, talvez no transporte ou nas fábricas, e está a ser desperdiçada."
No areal, ainda se recuperam muitos cotonetes de plástico embora tenham sido proibidos. "Tudo o que entra nos esgotos vem parar ao mar."
As acções de "Descontaminação da Orla Costeira" são articuladas com as capitanias e com as autarquias costeiras, para que os voluntários retirem o lixo do areal, depositando-o em pontos combinados, para depois serem retirados pelo operador local de resíduos sólidos para deposição.
"O vidro é reciclado, porém, o plástico pode estar quebradiço e não haver viabilidade para ser reciclado", explica Simão Accioli.
Há ainda muitos artefactos usados pelos pescadores, como cabos e instrumentos de pesca com boias. "Resultam de perdas durante a actividade piscatória e até temos encontrado alguns vindos do Canadá e do EUA, usados na pesca da lagosta e do caranguejo, que chegam cá arrastados por correntes e ventos."
Mas há outros tipos de detritos que o fundador do grupo diz ser incompreensível encontrar, como as garrafas de litro e meio de água, abandonadas por banhistas e frequentadores da praia. E há igualmente embalagens com rótulos escritos em caracteres de outros países, provavelmente largados borda-fora.
Em Março, a Brigada já tinha actuado na zona, visitando as praias da região entre duas a três vezes por ano. "Actuamos em cerca de 370 quilómetros de orla costeira em todo o território continental, e em todos os areais com mais de 20 quilómetros", refere Simão Accioli sublinhando que, pelo menos no que concerne ao lixo maior, desde que começaram as acções de descontaminação que se nota menos quantidade.
O grupo opera no âmbito de uma parceria do projecto Transformar do Lidl, que ajuda economicamente, nos custos logísticos.