Desporto

Distrito de Leiria perdeu sete mil futebolistas à conta da pandemia

3 abr 2021 08:20

Os escalões de formação foram os mais afectados, onde havia 8841 inscritos e passou a haver apenas 2193

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Treinos individualizados e inexistência de competição afastaram os mais novos
Ricardo Graça/Arquivo

O futebol era a única modalidade desportiva que tinha praticantes federados em todos os concelhos do distrito.

Era, porque a pandemia provocou uma redução drástica no número de filiados na Associação de Futebol de Leiria (AFL) que afectou especialmente Castanheira de Pera, onde o único clube que se dedicava ao pontapé na bola não voltou para a temporada 2020/21.

O Sport Castanheira e Benfica foi apenas um dos muitos emblemas que congelaram a participação na época que se encaminha para o fim. A redução de clubes a participar nas provas distritais foi considerável.

Dos 140 que havia em 2019/20, sobraram apenas 110 em 2020/21, o que corresponde a uma quebra de 21%. Uma diminuição considerável, mas bastante longe, ainda assim, dos 63% de atletas que jogavam futebol federado e deixaram de o fazer.

Segundo os dados de um estudo da AFL a que o JORNAL DE LEIRIA teve acesso, os escalões de formação foram os principais afectados.

O futebol sénior sofreu uma redução de 14% no número de praticantes, de 2198 para 1887, mas até aumentou de forma residual nos concelhos de Leiria, Pedrógão Grande e Bombarral.

Já entre os mais novos aconteceu uma “calamidade”, entende Manuel Nunes, presidente daquela entidade. Nada menos do que 75% dos jovens atletas deixaram a modalidade. Se havia 8841 inscritos nos escalões de formação passou a haver apenas 2193, sendo a razia transversal a todos os concelhos.

No cômputo geral, o número de praticantes filiados caiu 63%, de 11039 para 4080, um valor que o responsável acredita demorar “dois a três anos” a ser recuperado.

“O estudo dá-nos uma radiografia bastante evidente. A pandemia teve um impacto avassalador e foi nos escalões de formação que mais se fez sentir. Isto permite-nos concluir que os clubes estavam organizados e que era através da formação, com as mensalidades e outras receitas, que tinham encontrado a sustentabilidade, mas o facto de a Direcção-Geral da Saúde não ter permitido a competição dos escalões mais jovens foi um abalo significativo”, explica o responsável.

A “ausência de público” e os “bares fechados” foram outras das determinações superiores que provocaram o afastamento.

Os patrocínios escassearam e os treinos dos mais novos nunca deixaram de acontecer com o devido distanciamento, como se de uma modalidade individual se tratasse, o que terá desmotivado mais alguns, em idades em que o acesso à prática desportiva ainda se dá, em larga medida “por imitação dos amigos”.

E os clubes, a “base da pirâmide da prática desportiva”, que garantem “o bem-estar físico e psicológico” dos mais novos, passaram a enfrentar “graves problemas financeiros” e o desaparecimento de muitos tornou-se “iminente”.

Com a pandemia controlada, Manuel Nunes espera que voltem na próxima época, mas não tem certezas. Um eventual fecho de portas arrastará consigo “um grave problema social e económico”. “Acreditamos que com segurança, resiliência, coragem e dedicação iremos vencer este novo desafio.”