Entrevista

Entrevista | Joaquim Cândido: "A urgência hospitalar tornou-se um monstro em todo o País"

4 abr 2019 00:00

O neurologista, natural de Leiria, considera que a luta A luta cooperativa de médicos e enfermeiros está a destruir o SNS.

Maria Anabela Silva

Cumpriu o serviço médico à periferia no hospital de Alcobaça. Que recordações guarda desse tempo?
Foi em 1976, no âmbito do serviço médico à periferia. Quando chegámos, os meios técnicos eram mínimos. Não havia sequer serviço de radiologia. Tínhamos um aparelho de raio-x encaixotado, mas não funcionava porque a potência eléctrica não era suficiente no hospital. Os doentes tinham que se deslocar a um consultório de radiologia. Foi uma experiência única e uma grande aprendizagem.

De Alcobaça, foi para Leiria.
Exacto. Estive lá em 1977/78, antes de ir fazer a especialidade de Neurologia para Coimbra. Comparando a realidade que encontrei no velho hospital de Leiria com o hospital de hoje, a mudança foi espantosa. Fazia sozinho, tal como os outros colegas, uma urgência de 24 horas todas as semanas, ao longo de dois anos. A minha primeira filha nasceu num desses dias. Fiz o parto, juntamente com a parteira porque não havia médico obstetra permanente. Mas, apesar das condições precárias, o velho hospital tinha bons profissionais. Aprendi muito com esses médicos, que tinham uma dedicação grande ao hospital. O administrador era o padre Pires. Hoje, um hospital é um centro tecnológico. O de Leiria desenvolveu-se tecnologicamente e tem capacidade para responder a grande parte das situações clínicas. Passou de uma situação básica, com uma urgência assegurada por um único médico, para uma situação incomparavelmente melhor, com equipas com vários especialistas.

Leia aqui a segunda parte desta entrevista

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Terá crescido de mais?
As notícias que nos chegam dão conta de um serviço de urgência num estado de quase ruptura. Mas o hospital de Leiria não é caso único. É semelhante ao que se passa no resto do País. Talvez nos hospitais distritais as dificuldades e as insuficiências do SNS se façam sentir mais. Os cuidados primários melhoraram bastante, mas ainda há muito a fazer. Um centro de saúde tem de ser, cada vez mais, o local com meios e prestígio, onde se deve resolver grande parte dos problemas dos doentes. Os hospitais devem ficar para as situações verdadeiramente urgentes. A urgência hospitalar tornou-se um monstro em todo o País. O que choca numa urgência é o excesso de doentes e a desumanização, com o abandono dos casos não urgentes, resultante, muitas vezes, da falta de organização do sistema. Não era ali que deviam estar. Temos hoje serviços de urgência que já não são deste s&ea

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