Sociedade
Exploração de caulino nas Colmeias: “isto é o início de uma batalha muito longa”
Se o Cabeço Redondo for concessionado à ADM, serão afectadas casas, centenas de pessoas, escolas, jardins-de-infância, um lar de idosos e a ribeira de Agodim
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Cerca de 200 moradores nas freguesias de Colmeias, Memória e Boa Vista participaram no sábado numa caminhada contra a intenção da empresa ADM de fazer prospecção de caulino na União de Freguesias de Colmeias e Memória, junto às localidades de Agodim, Talos e Vale de Água.
Antes do início do percurso e falando como porta-voz da população, o presidente da união de freguesias, Artur Santos, prometeu acções “mais musculadas”, caso as entidades com a tutela dos recursos minerais nada fizerem.
“Isto é o início de uma batalha muito longa. Não pensem que se irá resolver com meia-dúzia de acções. Daqui a 30 anos, quando tiverem explorado o que já estão a explorar, podem vir, mas, por agora, deixem-nos em paz”, frisou, insurgindo-se sobre os estudos preliminares que se focaram na existência de espécies animais, mas que ignoraram completamente o impacto nas pessoas e nas comunidades que rodeiam a zona intervencionada, cuja área é equivalente a 90 campos de futebol.
Caso a zona do Cabeço Redondo seja concessionada, prevêem os promotores do protesto, serão afectadas casas, centenas de pessoas, escolas, jardins-de-infância, um lar de idosos e a ribeira de Agodim (ribeira dos Milagres).
A União de Freguesias das Colmeias e Memória vai pedir ao presidente da Câmara, Gonçalo Lopes, para que convide os responsáveis da Direcção-Geral de Energia e Geologia para uma “conversa séria”, para que “tenham a noção” que, só na freguesia das Colmeias, desde 2012, foram aprovados mais de 450 hectares para exploração ou mais de 450 campos de futebol.
“Pelo histórico que temos, as empresas retiram o lucro, fazem os buracos, mas depois, vão à falência e ninguém tapa ou recupera nada.”
Segundo fonte da autarquia, caso haja uma concessão de exploração - o passo seguinte do processo -, o valor dos terrenos dos privados será ficado pelo Estado, sem negociação.
Caso os proprietários recusem o valor, o processo segue para expropriação.
No dia 11 de Setembro, termina o período de consulta na plataforma Participa, onde se refere que a prospecção tocará também território da freguesia vizinha da Boa Vista.
A ADM é actualmente detida por um fundo de investimento estrangeiro, a Oxy Capital, que, em 2017, afastou o sócio Carlos Mota, filho do fundador da empresa.
“A água é um recurso que ganhará ainda mais importância no futuro”, disse Artur Santos, recordando que a empresa tem muita força porque a zona do Cabeço Redondo está, na Carta Geológica de Portugal, reservada para a exploração de inertes.
“Tenham em consideração que, em tudo aquilo em que as empresas de exploração se comprometeram falharam: reflorestação, reparação de vias ou criação de barreiras para impedir a passagem de pó. Veja-se como está a zona do Barracão, Bouça, Estrada da Bouça, Igreja Velha e Outeiro do Crasto!”
Se não conseguir atingir os seus objectivos, o presidente da união de freguesias põe em cima da mesa a possibilidade de se demitir do cargo.
“Não posso admitir que as pessoas e as entidades gozem comigo. Ou estamos todos unidos em prol desta causa e, aí, garanto que venceremos, ou não estou aqui a fazer nada!”
Foi ainda reforçada a urgência de subscrever os dois abaixos-assinados que estão a correr neste momento, o primeiro contra a prospecção e outro a pedir a criação de vias alternativas para retirar o transito de veículos pesados e máquinas de grande porte das estradas municipais da freguesia.
Um pedido que a Junta de Freguesia está a fazer desde 2010, sem qualquer resposta.
“Temos lutado e já apresentámos projectos para as criar. Temos sido, completamente, ignorados”, afirmou Artur Santos.