Sociedade

Faleceu o fundador da Leiriense Plásticos

9 mai 2018 00:00

As cerimónias fúnebres de Álvaro Pires realizam-se amanhã, dia 10, na Casa Mortuária de Leiria.

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Fundador da Leiriense Plásticos e da Bomcar, distribuidora oficial da BMW, Álvaro Pires faleceu esta noite, aos 87 anos. As cerimónias fúnebres realizam-se esta quinta-feira, dia 10, pelas 15 horas, na Casa Mortuária de Leiria

Álvaro Pires tinha “24 ou 25 anos” quando criou a Leirisense Plástico, que se dedicava ao fabrico de utilidades, brinquedos e mangas para a agricultura. “Comecei do zero, ultrapassei todas as empresas e cheguei a ser o número um. Mas também corri o País todo”, recordou o empresário no caderno História da Indústria na Região de Leiria – Plástico, publicado em 2015 pelo JORNAL DE LEIRIA.

Nessa ocasião, o empresário contou ainda que “numa semana dava a volta à Europa” à procura de novidades, apesar de não saber uma única palavra de inglês e de mal falar o francês. “Com a ajuda de gestos mais, lá me desenrascava”.

Álvaro Pires, que mais tarde criou também a Bomcar, acabaria por vender a Leiriense Plástico, em 2000, ao grupo Plasteuropa.

 

Leia o artigo completo sobre Álvaro Pires publicado pelo Jornal de Leiria em 2105, no caderno História da Indústria na Região de Leiria - Plástico, da autoria da jornalista Alexandra Barata:

Álvaro Pires, 83 anos, não sabe precisar com exactidão se teria 24 ou 25 anos quando criou a Leiriense Plásticos. Mas recorda-se bem da conversa que teve com Aníbal H. Abrantes, com quem se foi aconselhar antes de dar esse passo.

“Disse-me que era um negócio interessante e que ia ganhar muito dinheiro, mas que os primeiros dois anos, até ter clientes, iam ser difíceis, porque os moldes eram caros. Confirmou-se.”

“Lembro-me de ir ao banco e de me dizerem que mil contos mal dava para a cova de um dente. A primeira máquina com que comecei a trabalhar era usada e custou-me 14 contos. Foi sempre a investir”, assegura Álvaro Pires.

“Os ordenados aumentavam e eu comprava mais uma máquina para produzir mais e cobrir os aumentos. Nunca punha dinheiro de lado”, afirma. “Qualquer industrial se não estiver constantemente a investir, acaba por morrer.”

Enquanto outros fabricantes de plásticos sabiam das novidades do que se fazia lá fora através de Aníbal H. Abrantes, Álvaro Pires preferia ser ele a viajar. Portador do Passaporte nº 34, apanhava o avião ao domingo à noite, para rentabilizar o tempo, e aproveitava o dia para fazer visitas.

“Numa semana, dava a volta à Europa. Trazia muitos produtos para fazer cópias cá. Raramente inventava alguma coisa.” “Era conhecido pelo dragão da violência, porque ia sempre à procura de coisas novas e estava sempre a apresentar novidades”, revela o fundador da Leiriense Plásticos.

“Na altura, não se podia importar nada, mas como eu tinha um amigo na Alfândega, mandava-lhe um telegrama a dizer a que horas chegava ao aeroporto, e não me levantavam problemas.” O mais curioso é que não sabia uma única palavra de Inglês e francês mal falava. “Com a ajuda de gestos, lá me desenrascava.”

Aníbal H. Abrantes foi o primeiro fornecedor de moldes de Álvaro Pires, porque se estava sempre a modernizar e tinha bons equipamentos. Mas como “demorava muito a fazer as entregas”, encomendava também a outras empresas, como a Emídio Maria da Silva, que “demorava menos, mas também falhava muito”, e ao Ruivo, que tinha uma oficina.

A Leiriense Plásticos fazia utilidades e brinquedos, mas também fabricava sacos e mangas para a agricultura, para se tentar diferenciar dos outros. “Comecei do zero, ultrapassei todas as empresas e cheguei a ser o número um. Mas também corria o País todo”, assegura.

“O pai do Presidente da República Prof. Cavaco Silva foi o meu primeiro cliente de sacos para rações. Arranjei uma lista de empresas de rações e escrevi a todas. Ele foi um dos que me respondeu”, recorda. “Fui ao Algarve expressamente por causa disso. Vendi-lhe cinco mil sacos. Era uma encomenda pequena, mas como estava a começar não podia recusar negócios.”

Com a “saída amigável” do sócio com o qual fundou a empresa, “os comentaristas de café, que não sabiam fazer nada, diziam que eu não me aguentava, pois o pai dele é que tinha fortuna”, conta Álvaro Pires.

“Cheguei a ter a fama do homem mais rico de Leiria como a do homem mais pobre ou falido. Por isso, disse ao sr. Rebelo, do BNU, para não acreditar nem no que lhe dizia nem no que os outros lhe diziam, mas no que via.”

Como o fundador da Leiriense Plásticos era conhecedor do mercado e dos clientes de Norte a Sul do País, nunca teve dificuldades. O tempo veio dar-lhe razão e provar que o gerente bancário podia confiar nele. “Procurava sempre qualidade.”

Álvaro Pires acabaria por vender a empresa há cerca de 20 anos a empresários do Norte. Nessa altura, fazia mangas para a agricultura, sacos para adubos, rações e supermercados, e filme técnico.