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Há um novo ciclo com selo Fade In e leva música experimental à igreja
No programa de 10 concertos destacam-se Vitor Rua, Sei Miguel, Vitor Joaquim e HHY & The Macumbas
Vitor Rua e o projecto Telectu encabeçam o cartaz de um novo ciclo de música exploratória que a Fade In está a preparar para 2021 em Leiria.
A associação responsável pelos festivais Monitor e Entremuralhas volta a ampliar as fronteiras da acção cultural e tem agendados 10 concertos para colocar as sonoridades mais experimentais na Igreja de São Pedro e na renovada Igreja da Pena.
O guitarrista e compositor Vitor Rua, que o presidente da Fade In, Carlos Matos, considera “uma lenda da música portuguesa”, membro fundador dos Telectu no início dos anos 80, ao lado do musicólogo Jorge Lima Barreto, falecido em 2011, apresenta-se actualmente com Ilda Teresa Castro em concertos que, frequentemente, repõem discos antigos da banda, como Belzebu e Off Off.
Sei Miguel e Osso Exótico são também nomes com raízes na década de 1980 que vão tocar em Leiria logo que o desconfinamento o permita, por iniciativa da Fade In. O trompetista ligado ao território do jazz surge em formato trio, o colectivo liderado por David Maranha e André Maranha traz novo single, L'Assemblage, editado em 2020.
No programa do ciclo de música exploratória, que monopoliza a 20ª edição do Fade In Festival, descobre-se outra referência do som experimental em Portugal, Vítor Joaquim, que nos últimos meses editou The Construction of Time e três gravações ao vivo (momentos de 2005 e 2006, acompanhado por Carlos Zíngaro, Simon Fisher Turner e Draftank).
Do Porto, o colectivo HHY & The Macumbas, com Jonathan Uliel Saldanha aos comandos e o Primavera Sound no currículo, transporta de 2020 o título Camouflage Vector: Edits From Live Action 2017-2019, que reúne várias actuações registadas entre 2017 e 2019, tanto em Portugal como no estrangeiro.
A violoncelista e compositora Joana Guerra (álbum Chão Vermelho, pela editora Miasmah Recordings), a dupla Calhau! (Tau Tau, pela Discrepant) e João Vairinhos (Vénia, com selo Raging Planet, Regulador Records e Ring Leader) têm também trabalhos de 2020 para mostrar.
Os Löbo (de que João Vairinhos fundador) e o Ensemble Decadente completam a lista com curadoria da Fade In.
“Da música electrónica à experimental, do improviso espasmódico ao jazz insurrecto, do ambiental poético ao drone obscuro, do neoclássico rebelde ao contemporâneo desafiante, da música concreta à atonal, do serialismo ao minimal, há todo um universo fora das zonas de conforto normais que desejamos descobrir, partilhar e vivenciar”, refere, em comunicado, a associação com sede em Leiria.
A ideia “já vem de longe”, reconhece Carlos Matos. E encontra agora o contexto para se materializar. Por um lado, os eventos tradicionalmente de maior dimensão organizados pela Fade In podem não se realizar em 2021, um efeito colateral da pandemia. Por outro, as medidas de prevenção recomendam espectáculos mais pequenos, como sucede na Igreja de São Pedro e na Igreja da Pena.
Apesar de dirigido a “um nicho” de público, o ciclo de música exploratória, inicialmente previsto para decorrer entre Janeiro e Outubro, “fazia falta à cidade”, acredita Carlos Matos, que vê nele uma oportunidade para “alargar horizontes”, graças ao cartaz com “um cunho bastante personalizado e diferenciador”.
Para o futuro, fica a possibilidade de contratar projectos não portugueses, por exemplo, no âmbito de parcerias da rede Unesco de cidades criativas da música, de que Leiria faz parte.
Com o apoio do Município, está tudo a postos. Espera-se agora por luz verde do Governo para o regresso da cultura aos palcos.