Sociedade

Jornalista de Leiria inaugura novo Caminho de Santiago 'a solo'

26 mai 2017 00:00

Carlos Ferreira fez o percurso sozinho, na peugada de "companheiros jacobeus" naturais também do distrito de Leiria e que, dois dias antes, tinham concluído o trajecto em Finisterra.

Carlos Ferreira durante o caminho
Carlos Ferreira durante o caminho
Carlos Ferreira durante o caminho
Na Praça do Obradoiro em Santiago de Compostela
Na Praça do Obradoiro em Santiago de Compostela
Na Praça do Obradoiro em Santiago de Compostela
Jacinto Silva Duro

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Carlos Ferreira, jornalista de Leiria, foi um dos primeiros a aceitar o desafio de palmilhar o proposto Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros, que atravessa o Parque Nacional da Peneda-Gerês e segue pelo Xurês galego. 

O trajecto ainda está em processo de estudo e homologação, mas se os seus promotores conseguirem que a Xunta e a Confraria Jacobeia o aceitem, será a 10.º rota jacobeia de peregrinação para Santiago de Compostela.

Alguns dias antes de Carlos Ferreira, outros três peregrinos, oriundos de Caldas da Rainha, inauguraram o caminho, concluindo a sua peregrinação em Finisterra, no "Km0 do Caminho".

Chegou à Praça do Obradoiro, situada em frente ao santuário que contém o sepulcro do discípulo Tiago, no dia 22 de Maio. Costuma-se dizer no meio que os jornalistas não são notícia, mas o jornal Faro de Vigo não alinhou pela ideia feita e dedicou à aventura do peregrino uma reportagem

O profissional da comunicação social abraçou a missão de criar um relato de cada um dos dias percorridos nesta nova rota de peregrinação e turismo religioso, que une Portugal e a Galiza.

“Este foi o meu sexto caminho, depois do Interior, em 2012, do Central, da Costa, de Muxía/Finisterra e do Primitivo e a minha primeira intenção para 2017 era encontrar um caminho diferente, pouco frequentado”, explica.

Com início em Braga, na Porta de Santiago, da Sé local, tem uma extensão de 261 quilómetros, percorridos com declives íngremes, mas, num cenário propício à reflexão e à viagem interior ou espiritual, sem risco de atropelamento nem marchas forçadas no asfalto, como todas as peregrinações deveriam ser. 

“O caminho não está marcado com setas amarelas, nem tem albergues. Dormi em pensões e fui ajudado pelas associações, com a cedência dos traçados e arranjaram-me comida e dormida em duas noites”, conta Carlos Ferreira, que também é o autor do livro Alguma Dor Cura a Alma, onde relata as suas peripécias no caminho entre Fátima e Santiago de Compostela, em 2012.

No Caminho da Geira Romana e dos Arrieiro, entre as principais dificuldades, o jornalista aponta a ausência de albergues para os peregrinos e as etapas muito longas em terreno difícil. Ainda assim, não deixa de sublinhar a “beleza do traçado” e o facto de este ser uma boa alternativa para evitar as rotas mais conhecidas de peregrinação, que, devido à procura por parte de peregrinos de todo o mundo, se encontram congestionadas.

“É um caminho único, do ponto de vista do património natural. Penso não exagerar se disser que neste aspecto é dos melhores que percorri. Do ponto de vista do património monumental também recolhe muito interesse. Dou como exemplo a Via Sacra de Beade, que é um conjunto impressionante. Na área histórico-cultural, a Associação Codeseda Viva e a Associação do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro estão a fazer um trabalho de recolha notável, possuindo já dezenas de documentos e estudos que comprovam a existência de uma rota de peregrinação entre Braga e Santiago de Compostela, usada pelos portugueses e os arrieiros, vendedores de vinho de O Ribeiro.”

Para concluir etapas com uma distância média de 30 quilómetros por dia, o jornalista levantava-se, diariamente por volta das 6 horas – 5 horas em Portugal.

“A tranquilidade dos rios, das paisagens, os animais selvagens, os cavalos, o cantar dos pássaros... enfim compensa e, além disso, o povo das aldeias, regra geral, é simpático.”

O caminho não passa por grandes cidades monumentais como outros, mas têm cidades médias que justificam uma demora de uma tarde ou dia. Carlos Ferreira dá como exemplo Ribadávia, com a sua judiaria e uma “agradável zona histórica”.

“Há ainda um conjunto de termas notáveis, como Lóbios ou Berán - estas tive o privilégio de testar e comprovar que deve ser a melhor coisa que pode acontecer a um peregrino. Julgo que o trajecto tem, pelo menos, uma dezena de balneários e termas”, refere.

A proposta de homologação da nova rota partiu da Associação do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro e da Associação Codeseda Viva, esperando-se que a Confraria Jacobeia reconheça o Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros em 2019/2020. 

“Normalmente, pouco tempo após acabar um caminho começo a trabalhar no seguinte. Como este ainda não está homologado não havia muita informação, mas a partir da Associação do Caminho Jacobeu Minhoto Ribeiro comecei a fazer uma recolha. A oito dias de começar foi Abón Fernández, presidente da associação que me deu o trajecto de GPS para eu seguir. Depois a Associação Codeseda Viva, dirigida por Carlos de Barreira, com a colaboração de Jorge Fernández, deu-me apoio nos último troços”, conta o peregrino, resumindo “procurava um caminho novo e encontrei”.

Carlos Ferreira tem agora como objectivo publicar o relato da sua aventura nos jornais para onde escreve: o semanário Região de Leiria e Jornal da Batalha.

 

Trio das Caldas
De Braga a Finisterra

Maria João Batista, João Filipe e Luís Sobreiro, de Caldas da Rainha foram os primeiros a percorrer, na condição de peregrinos, o Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros.

Chegaram a Santiago de Compostela e continuaram até ao fim do caminho, no cabo Finisterra, a 130 quilómetros da capital galega. Terminaram a sua aventura no sábado, dia 20. 

A conclusão do percurso a pé, em peregrinação, é um pressuposto importante para a concretização da homologação do Caminho da Geira Romana e dos Arrieiros.

O traçado proposto leva os peregrinos a passar pelas localidades de Braga e Santa Cruz, pela Geira Romana, nome da antiga estrada construída há dois mil anos, e ainda por Vía Nova XVIII, Terras de Bouro, Campo do Gerês, Portela do Homem, Compostela, Lóbios, Entrimo, Feira Vella, Castro Laboreiro, Portelinha, Acobaça, Azoreira, Padrenda, Cortegada, Arnoia, Ribadavia, Beade, Pazos de Arenteiro, Distriz, Feáns, Beariz, Boborás, Brués, Soutelo de Montes, Vilapouca, Cachafeiro, Ponte Gomaíl (Gaxín), A Mámoa, A Portela e Codeseda e, finalmente, Santiago de Compostela. 

Ao jornal Faro de Vigo, o trio explicou que, ao contrário do que acontece no Caminho que tem início no Porto, na nova rota não só não há peregrinos, como encontraram “paz”, “tranquilidade” e “muita hospitalidade” dos habitantes locais. Não esquecem as paisagens e nem os cavalos garranos selvagens que tiveram a oportunidade de avistar.

Os peregrinos foram recebidos pelo presidente da Academia Xacobea e pelo alcaide de A Estrada, que apoiam a associação Codeseda Viva na recuperação deste antigo caminho de peregrinos. 

 

Peregrinação de Carlos Ferreira

1.ª Etapa/14/Maio - Braga - Caldelas - Terras de Bouro: 31 km
2.ª Etapa/15/Maio - Terras de Bouro - Portela do Homem – Lóbios/Os Baños: 35 km
3.ª Etapa/16/Maio – Termas de Lóbios/Os Baños - Entrimo - Castro Laboreiro: 34 km
4.ª Etapa/17/Maio - Castro Laboreiro - Monterredondo - Cortegada: 30 km
5.ª Etapa/18/Maio - Cortegada - Ribadavia – Berán: 25 km
6.ª Etapa/19/Maio – Berán - Boborás - Beariz: 32 km
7.ª Etapa/20/Maio - Beariz - Codeseda: 31 km
8.ª Etapa/21/Maio - Codeseda - Pontevea: 22 km
9.ª Etapa/22/Maio Pontevea - Santiago: 21 km