Sociedade

Lojas antigas com fulgor inicial

15 nov 2018 00:00

Mantêm os negócios com a mesma frescura dos tempos em que abriram portas, há já longos anos. Não têm receitas para a longevidade, mas partilham atitudes comuns: paixão e investimento

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Daniela Franco Sousa

Quando Fernando de Almeida Freitas inaugurou a Chapelaria Liz, na Rua Barão de Viamonte (Rua Direita), contavam-se facilmente os automóveis que circulavam pela cidade de Leiria. As senhoritas e os cavalheiros faziam-se passear a pé para espreitar as montras e apreciar as novidades. E os chapéus faziam parte da indumentária deles e delas, tal como ditavam as modas do cinema, que na maior parte das fitas ainda era mudo. Foi há 90 anos.

Desde então, muito mudou na cidade. Leiria é agora um centro urbano, onde passam diariamente milhares de automóveis, mas onde também são agora muito menos aqueles que passeiam tranquilamente para ver as modas na Rua Direita.

No entanto, apesar da multiplicação da oferta e da distribuição do público por outros pontos de interesse da cidade, a Chapelaria Liz mantém-de de portas abertas e com ideias inovadoras que conquistam os clientes de várias gerações.

Este é um dos vários casos de longevidade identificados pelo JORNAL DE LEIRIA, onde nenhum comerciante nega a dificuldade de manter o negócio vivo, mas onde também se apontam medidas imperativas, certeiras na hora de ultrapassar os contratempos.

Modernizar os espaços, adaptar os produtos às novas necessidades do público e apostar na formação dos colaboradores são algumas das sugestões deixadas por estes resistentes do comércio. A comunicação via internet, com presença cuidada em várias redes sociais é outra das apostas que já nenhum estabelecimento comercial pode descurar.

Chapelaria Liz

Na Rua Direita com um pé na internet

Ana Paula Moreira está à frente da Chapelaria Liz, o negócio que até há pouco tempo pertencia ao seu pai. Ao longo de nove décadas de história, esta casa sempre esteve nas mãos desta família, a começar pelo próprio fundador, o senhor Fernando de Almeida Freitas, primo afastado de Ana Paula.

A lojista não esconde o quão difícil é manter o negócio durante tantos anos e conta que o seu pai, desanimado, chegou a pensar desistir. Mas Ana Paula Moreira não baixou os braços. Era “uma pena” acabar com uma casa cheia de tradição. A opção foi abraçar o projecto e introduzir novidades, que o público já está a apreciar.

Quanto à maior dificuldade, realça a comerciante, talvez esteja na própria localização da Chapelaria Liz. Se até à década de 90 do século passado, a Rua Direita era uma via com movimento, à medida que outras áreas comerciais foram surgindo em Leiria, este troço foi perdendo a dinâmica de outrora. E a escolha de outros locais da cidade para a realização de eventos, sobretudo na Praça Rodrigues Lobo e em direcção ao rio, acaba por deixar esta artéria um pouco “esquecida”, defende a lojista.

Como fechar não era opção para Ana Paula, a comerciante começou de imediato a incrementar novidades. Diversificou e aumentou o stock de artigos, para poder ter sempre resposta às solicitações dos clientes.

O estabelecimento concentra hoje vários tipos de chapéus, de calçado, cintos, malas, carteiras e chapéus de chuva, de marcas nacionais e também internacionais, sempre de grande qualidade, enumera a lojista. Entre os seus clientes há turistas franceses, que já têm a chapelaria como ponto obrigatório de visita, também elementos de grupos folclóricos, da tauromaquia, senhores e senhoras com mais idade, mas também mulheres mais novas, que apreciam chapéus em ocasiões de cerimónia ou até no dia-a-dia.

Atrair clientes à loja física, que “ainda é desconhecida para muitas pessoas de Leiria”, e promovê-la online, são os rumos onde Ana Paula tem vindo a trabalhar. Fez obras, alterou a disposição do mobiliário e criou áreas de exposição mais atractivas. Por outro lado, fez um curso de facebook, com o objectivo de aprender a promover o espaço e os produtos através daquela rede social.

Por enquanto, Ana Paula divide-se por todas as tarefas inerentes à loja e não tem ainda a disponibilidade que precisa para tirar mais proveito do online. Mas o seu objectivo passa por ter um colaborador na loja, para ter mais tempo para se dedicar à web, salienta a comerciante.

Uma coisa é certa, por mais evolução que o negócio venha a ter, o espaço de características tradicionais e o atendimento personalizado não hão-de faltar, adianta a lojista, que, atrás do balcão, também é “um bocadinho médica e um bocadinho psicóloga”.

Grupo ADN

1974 e a revolução dos Narcisos

Em Leiria, 1974 foi marcado por mais do que uma revolução. Além dos célebres cravos vermelhos, também os Narcisos fizeram história na cidade. Foi precisamente nesta data que David Narciso abriu uma loja que viria a romper com os conceitos de moda de então.

Apostado desde sempre em vender produtos de grande qualidade, diferenciados, David Narciso começou desde logo a frequentar as grandes cidades europeias, sobretudo Paris, de onde saiam as melhores colecções. Transpunha depois essas ideias para os artigos que vendia em Leiria, na David Huomo.

Actualmente, é Hélder Narciso, seu filho, que assume a gerência do negócio, que deixou de se cingir a uma loja para se transformar num grupo delas. Do Grupo ADN fazem parte agora várias lojas multi-marca em Leiria e em Coimbra, inseridas ora em comércio de rua ora em centros comerciais, estando presentes também nalguns frinchisings. Feitas as contas, são já 15 lojas localizadas sobretudo na região Centro, que dão emprego a cerca de 50 pessoas, explica Hélder. O segmento continua a ser médio e alto, sendo que a estratégia gizada por David Narciso – que se mantém a par dos negócios – é cumprida à risca como no primeiro momento.

Tanto David como Hélder salientam que “é preciso muito trabalho, muito esforço, para tentar motivar as equipas, para estar actualizado em termos de oferta, e há que ser muito determinado na forma de investir”. Ou seja, trabalhar, poupar e reinvestir no negócio, remodelar lojas com frequência sem estar à espera que algum apoio ou subsídio lhes caia no colo, expõe Hélder, que recorda a última remodelação, feita já em Março deste ano.

“Sabemos no que somos bons e focamo- nos. Não saímos do nosso registo”, realça o gerente. Existe, no entanto, visão para perceber em que novas zonas das cidades vale a pena investir, e visão também para perceber que extensões pode o negócio adquirir. Foi o caso da nossa loja “ADN Kids, que é uma reprodução das grandes marcas que vendemos para adultos, mas adaptadas a crianças”, exemplifica Hélder Narciso.

Tal como o pai, também o actual gerente encontra nas viagens uma grande ferramenta de crescimento e de actualização. Lá fora, vêm-se colecções, lojas e vitrinas e assim se “abrem horizontes”, mais do que algumas formações, que são mera formalidade, defende o empresário, nota a empresária.

Ourivesaria Moisés

Ouro que brilha há três gerações

É enorme a satisfação que sente Moisés Oliveira, quando à sua ourivesaria, na Avenida Heróis de Angola, chega uma terceira geração de clientes. Alguns até emigrantes, que aproveitam as férias de Verão para visitar a loja, que é também a loja dos seus pais e

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