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Morreu António-Pedro Vasconcelos, natural de Leiria, realizador de “Jaime” e “Call Girl”

6 mar 2024 10:32

O cineasta e conhecido adepto do Benfica, que cresceu em Leiria, também autor de “O Lugar do Morto” e “Os Imortais”, faleceu aos 84 anos de idade

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“A ideia de que público e qualidade são incompatíveis é desmentida por toda a história do cinema”, disse em 2012 em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA
Ricardo Graça/Arquivo

“Os filmes têm de convencer as pessoas do seu mérito. E isso é coisa que, em Portugal, não só não é tida em conta, como ainda é mal vista”, afirmou numa entrevista ao JORNAL DE LEIRIA em 2012, em que também dizia: “[Em Portugal] quem consegue fazer filmes que têm boa aceitação do público é castigado porque passa logo a ser apelidado de realizador comercial. É um absurdo total, uma negação de toda a história do cinema, que o Estado tem protegido cobardemente. A ideia de que o cinema de autor tem de criar um cinema autista é uma mentira que serve os propósitos de alguns, mas é historicamente falsa. A ideia de que público e qualidade são incompatíveis é desmentida por toda a história de cinema, veja-se o êxito de Chaplin, Fellini ou de Hitchcock”.

Natural de Leiria, o cineasta António-Pedro Vasconcelos faleceu aos 84 anos de idade, em Lisboa, confirmou hoje a família, citada pela agência Lusa.

Na conversa com o JORNAL DE LEIRIA, considerava que “o Estado não deve ter uma visão paternalista do cinema, nem definir uma política do gosto”.

“Sou pela intervenção do Estado, no apoio ao cinema, como regulador, fiscalizador, incentivador, criador de condições para que o cinema consiga chegar ao público, gerar receitas. Mas não deve ser financiador único, nem aquele que estabelece os critérios dos filmes a fazer”, realçava.

Autor de filmes como “O Lugar do Morto” e “Os Imortais”, nasceu em 10 de Março de 1939, quando o pai, juiz, estava colocado em Leiria. Além de realizador, foi produtor, crítico, cronista, apresentador e comentador televisivo, professor, escreveu livros e manteve uma forte intervenção cívica.

“Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais correctos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal”, destacou a família em comunicado.

Conhecido adepto do Benfica e membro da geração do Cinema Novo Português, assinou alguns dos maiores êxitos de bilheteira da sétima arte portuguesa.

O primeiro filme de ficção foi “Perdido por cem...” (1973), entre outros, assinou também “O Lugar do Morto” (1984), “Jaime” (1999), premiado com a Concha de Prata do Festival Internacional de Cinema de San Sebastian e os Globos de Ouro portugueses de Melhor Filme e Melhor Realização, “Os Imortais” (2003), “Call Girl” (2007) e “A Bela e o Paparazzo” (2010).

Em 2015, foi vencedor dos Prémios Sophia para Melhor Filme e Melhor Realizador com “Os Gatos Não Têm Vertigens”. Mais recentemente realizou “Amor Impossível” (2015) que lhe valeu o Sophia de Melhor Filme e “Parque Mayer” (2017), tendo-lhe sido atribuído o Sophia de Melhor Realizador.

A filmografia encerrou com “Km 224”, lançado em Abril de 2022.

Esteve entre os fundadores do Centro Português de Cinema e presidou à Associação Portuguesa de Realizadores.

O Município de Leiria emitiu já uma nota em que “lamenta profundamente" a morte de António-Pedro Vasconcelos.

“Em 2015, o Município de Leiria atribuiu a Medalha da Cidade de Leiria a António Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos, pela sua notoriedade como cineasta, exemplo como cidadão interventivo nas áreas social, cultural, política e desportiva, sempre com o intuito de contribuir para o engrandecimento de Portugal”, pode ler-se.

“O Município de Leiria manifesta o seu profundo pesar perante a morte de António-Pedro Vasconcelos e associa-se ao luto e à dor sentida pela família e amigos mais próximos”, conclui a Câmara.