Sociedade

Número de imigrantes vítimas de violência doméstica duplicou em Leiria

23 nov 2020 18:06

Para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, a Mulher Século XXI irá lançar uma campanha digital

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Se for vítima ou conhecer alguém que sofre de violência doméstica, denuncie
Bruno Gaspar

O número de vítimas de violência doméstica que procuraram apoio na associação Mulher Século XXI, em Leiria, duplicou face a 2020, passando de 15 para 34.

Susana Ramos Pereira, presidente da Mulher Século XXI – Associação de Desenvolvimento e Apoio às Mulheres, desconhece a explicação: "Será que se deve exclusivamente ao aumento de imigrantes na região? Será resultado do crescimento do desemprego? São pessoas que estão cá há um ou dois anos. É um aumento grande demais, que deve ser estudado pelos parceiros da rede”, da qual, entre outros, fazem parte os órgãos de polícia criminal e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Até 31 de Outubro, o Centro de Atendimento às Vitimas de Violência Doméstica do Distrito de Leiria atendeu 147 casos novos, sendo 137 mulheres e dez homens. Destes, 16 são idosos, refere uma nota de imprensa da associação.

Comparando com o período homólogo de 2019, que registou 161 novos casos, nota-se uma ligeira diminuição. Em 2020, o número de acompanhamentos foi de 1003 (o atendimento telefónico aumentou muito), número mais elevado do verificado em 2019 (863).

“Não houve menos violência doméstica, mas o confinamento obrigou ao silêncio. As vítimas estavam mais controladas e com maior dificuldade em pedir ajuda. Muitas procuram, agora, também auxílio para o processo de separação, já que a casa de família deixou de ser um porto de abrigo e passou a ser uma prisão”, sublinha Susana Ramos Pereira.

Os pedidos de ajuda estão a começar a chegar agora. “Temos tido mais procura nos atendimentos, com vítimas a mostrarem muito medo. Têm pedido apoio à nossa jurista e ao nível psicológico. Têm a auto-estima destruída. A pandemia escondeu as situações, que vão surgir agora”, constata.

A presidente da Mulher Século XXI acrescenta que tem havido muito apoio psicológico da associação através de videoconferência junto das vítimas.

Para assinalar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se comemora no dia 25 de novembro, a Mulher Século XXI irá lançar uma campanha digital, tendo em conta as questões de confinamento que o país está a atravessar, anunciou ainda.
 
O Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA), da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), anunciou hoje que se registaram 30 mulheres mortas entre 1 de Janeiro e o dia 15 de Novembro, 16 das quais em contexto de relações de intimidade, um valor abaixo das 21 registadas em 2019.
Pandemia
Acolhimento reduzido
A pandemia diminuiu ainda a capacidade de resposta desta organização não governamental ao nível do acolhimento de emergência.
Em 2020, a associação acolheu 48 vítimas das quais 17 eram crianças (descendentes diretas), quando em 2019 o número foi de 88 vítimas das quais 35 eram crianças.
“A nossa estrutura tem uma lotação para oito vítimas. São três quartos, mas com o cumprimento das normas impostas pela Direcção-Geral da Saúde, que obrigam a um período de isolamento de 14 dias em cada entrada na resposta de acolhimento, faz com que o número real de vagas existentes diminua para um terço da sua capacidade”, revela.