Opinião

Ó brinquedo, arreda-te que eu quero ver o soalho!

7 abr 2016 00:00

Ninjas e Princesas por Ricardo Graça

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Cá em casa, quando nos vamos deitar, cheira-me que os brinquedos ficam entretidos numa rebaldaria sem fim e ainda por cima devem ser de uma estirpe qualquer de católicos de gestação rápida, fazem-no sempre com o intuito de procriar e conseguem-no pela calada da noite. Tendo em conta o número crescente de bugiganga pseudo didáctica que nos enche o soalho dia após dia…

É plástico com pelúcia, a bola roída com a peça de puzzle desaparecida, a boneca em manto de ranhoca e sopa antiga com a plasticina de várias cores que a dada altura desistimos que se misturasse, o robô perneta com o crocodilo dentista, vale tudo. Uma falta de vergonha! Pelo que me é dado a entender é geral, acontece em todas as casas onde o poder foi entregue ao pessoal de fralda.

O problema é que sempre que fazemos uma limpeza geral ao espólio de diversão dos miúdos temos dificuldades em despachar os corpos numa lixeira. Primeiro porque, não sei como, o Ninja Cataclismo parece um fiscal das finanças numa inspecção, tem o inventário ao milímetro e topa na hora seguinte o desaparecimento daquele carrinho em fim de vida. Depois, porque na hora da verdade custa-nos mandar fora a prenda do chinês oferecida pelo tio-avô que nunca vemos, a garrafa de plástico transformada em foguetão que vem do infantário no Dia do Pai, e nos transforma em astronautas orgulhosos, mas com necessidade de aumentar o número de assoalhadas, ou o brinquedo que era meu, cheio de peças que saltam e de tinta de amianto que falha todas as normas de segurança, mas sobreviveu intacto a 35 anos de tempo com melhor aspecto do que eu.

Também há os verdadeiros brinquedos didácticos, úteis, de qualidade e com pinta, mas são uma percentagem tão pequena quanto a de políticos com as mesmas características. O consumismo é tramado, são muitas efemérides e no fundo está instituído que não é de bom tom não dar uma prenda quando visitamos alguém ou retribuir a prenda do Natal passado. Mas cada vez que entro numa divisão desta casa e não vejo o soalho apetece-me proibir mais brinquedos.

Ofereçam passeios, programas fixes que envolvam brincadeiras perto de um frigorífico com cerveja para os progenitores, fraldas ou simplesmente apoiem os bancos e brilhem com aquela frase clássica: “Depois se não vos servir podem trocar”, enquanto entregam um envelope com dinheiro aos pais que prometem fazer de tudo para não o gastar e que depois, quando o gastam, apontam como dívida a pagar – também é uma coisa que ocupa muito espaço, mas tem mais arrumação.