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Palavra de Honra | “Desejo secretamente… coisas que não se escrevem num jornal”

10 set 2022 11:00

Pedro Santos, jornalista

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Já não há paciência… para as “contas certas”, a “prudência orçamental”, o “fetiche” com o défice e o faz de conta do controlo da dívida pública, que estava nos 125% do PIB, no final de Julho, dados do Banco de Portugal. Esteja o “país de tanga”, venha o Sócrates, chegue a Troika, apareça a Geringonça, nunca é a altura certa para fazer a redistribuição da riqueza criada. Não se podem dar apoios na crise, porque há crise; não se podem baixar impostos na bonança, porque é preciso consolidar. “Consolida filho, consolida”, já cantava José Mário Branco, no FMI. Depois vem a esmolinha dos 125 euros, a pensão e meia. Mas a actualização das pensões leva um corte em 2023. Com papas e bolos se enganam os tolos.

Detesto… escravos felizes. Não há nada pior! O activista estadunidense pelos direitos civis das pessoas negras, Malcolm X, explicou bem a diferença entre um house negro e um field negro. Corriam os anos 1960, do século XX. Leiam ou ouçam os seus discursos. Vão perceber.

A ideia… de que não podemos mudar o mundo, de que morreram as utopias, de que é impossível acabar com as desigualdades, com a injustiça, com o tanto de errado que todos os dias nos entra pelos olhos: é mentira.

Questiono-me se... as pessoas ousam realmente dar-se à liberdade. Quando alguém oprime, insulta, julga, comenta, discrimina, agride ou mata pessoas LGBTQIA+ – seja pela forma como se exprimem ou por quem amam – terá alguma vez experimentado a vida que intimamente desejou?

Adoro… construir colectivos e projectos que deixam o mundo, nem que seja um bocadinho, um átomo melhor. E beijar na boca. Adoro beijar na boca.

Lembro-me tantas vezes… do privilégio, da sorte que tenho por ter à minha volta pessoas tão especiais e inspiradoras.

Desejo secretamente… coisas que não se escrevem num jornal.

Tenho saudades… de ter férias grandes. Daquelas de três meses, lembram-se?

O medo que tive… Correção: o medo que tenho. De me tornar cínico, de não querer saber. De achar que são todos iguais. Do “sempre foi assim e sempre será”, do “não há nada a fazer”. Esse é o medo.

Sinto vergonha alheia… de um governo/partido que usa a palavra “socialista” no nome recusar aplicar medidas que taxem o capital, os lucros especulativos das empresas de energia, da banca, das financeiras, do imobiliário. PS a ser PS.

O futuro… vai ser f*****. E quem tem o poder não está nem aí. Se, por um lado, não entendem (nem querem entender) a gravidade e a complexidade do que aí vem, por outro, não têm a preparação, nem a empatia. Mas o futuro é para tomar nas mãos. Se não o fizermos, alguém o fará em nosso nome.

Se eu encontrar… o sentido da vida, venho aqui avisar- -vos. Porque ele há dias, minha gente, em que andar neste mundo não faz sentido nenhum. Valham-nos estes questionários ;)

Prometo… não prometer nada.

Tenho orgulho… em ser quem sou, com as minhas incoerências e contradições. Na forma apaixonada como me envolvo e defendo aquilo em que acredito, que ajudo a criar. Da Rádio IPLay ao Protesto da Geração à Rasca, do Projecto Rios Livres-GEOTA ao Fumaça.