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Palavra de Honra | O futuro é risonho... por mais negro que seja.

13 ago 2020 11:11

Inês Thomas Almeida, musicóloga.

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- Já não há paciência ... para este 2020. Que isto acabe depressa.

- Detesto... esta incerteza de não saber como será o próximo ano escolar. Se tiver de ter outra vez os miúdos em casa, com a quantidade absolutamente desproporcional de trabalhos que lhes pedem (todos começados com um “pede a um adulto” ou “para fazeres em família”), como foi o caso entre março a junho, rebento. Eu e mais uns bons milhares de encarregados de educação.

- A ideia... de que agora é tudo novo, é uma enormíssima falácia. Ler textos medievais em que as pessoas se queixam que a juventude de hoje está perdida, ajuda a colocar muita coisa em perspectiva. Faz muita falta estudar História, que de resto é uma disciplina que deveria estar muitíssimo mais representada no percurso escolar obrigatório. Passo os dias embrenhada a estudar a vida de pessoas que morreram há coisa de 250 anos, e está lá tudo. Até o Facebook. 

- Questiono-me se... estaria boa da cabeça quando decidi fazer um doutoramento. Estou a dar em doida e ainda (ou apenas) me faltam seis meses para entregar a tese.

- Adoro... ter tempo para mim. Acontece-me muito raramente.

- Lembro-me tantas vezes... do meu saudoso tio Jorge Estrela. A falta que ele me faz.

- Desejo secretamente... que os meus filhos cresçam felizes e tenham suficiente poder de encaixe para viver com a mãezinha que lhes calhou na rifa, sem se tornarem psicopatas ou casos de estudo.

- Tenho saudades... do tempo em que festejavam o dia dos meus anos e ninguém estava morto, como dizia Álvaro de Campos.

- O medo que tive.. da primeira vez que vi o mar revolto na praia da Nazaré. Eu passava lá os verões com o avô dos meus primos, o Coronel Fausto Simões, a quem todos chamávamos carinhosamente de Avô Lola. Ele ia comigo para o mar, eu cheia de medo e ele a segurar-me firme na mão, e quando já estávamos muito perto da onda ameaçadora que rebentava em espuma, quase a levar-nos com ela e já impossível fugir, dizia-me: ”Vai à onda!”, e eu mergulhava por baixo da massa de água em fúria, deixando-a passar, implacável, por cima de mim, e voltava à superfície já do outro lado, em segurança, orgulhosa por ter conseguido vencer o medo, o mar e a mim própria.

Aprender a ir à onda, foi das maiores lições de vida que alguma vez tive. Continuo a ir. Todos os dias.

- Sinto vergonha alheia... quando ouço alguém dizer que o feminismo é igual ao machismo mas ao contrário. Quando ouço alguém dizer que não é feminista porque não é contra os homens. Quando ouço alguém dizer “eu não sou racista, mas...”. Quando vejo juízes a minimizar crimes de violação e de abuso por “boa inserção social” dos culpados. Quando vejo pessoas a acreditaram em qualquer coisa que lhes digam, só porque leram na net. Ainda há muito por fazer.

- O futuro... é risonho. Por mais negro que seja.

- Se eu encontrar... uma maneira de fazer com que os meus dias estiquem, terei resolvido um grande problema. 

- Prometo... só o que posso cumprir.

- Tenho orgulho... em mim própria. Em ter batido no fundo e regressado. E nos meus filhos, que são os mais lindos.