Economia

Queijo do Rabaçal debate-se com a falta de promoção

28 jan 2022 15:37

Marketing | Queijarias dizem que há menos produtores de leite DOP, essencial para o queijo, mas os produtores asseguram que o que falta é a afirmação de uma marca que tem potencial de milhões

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Associação de produtores de leite dizem que, se houvesse procura de Queijo do Rabaçal, a oferta não faltaria
Jornal de Leiria/Arquivo
Jacinto Silva Duro

O Queijo do Rabaçal, produzido na Serra de Sicó, é um dos mais importantes e singulares produtos locais da região.

A nível gastronómico, turístico e de desenvolvimento é uma fileira com um potencial de negócio de muitos milhões de euros, mas continua a passar ao lado da larga maioria dos portugueses e até mesmo dos habitantes locais.

A zona demarcada tem o epicentro na área das localidades de Alvorge, no concelho de Ansião e distrito de Leiria, Degracias e Pombalinho, ambas no município de Soure e distrito de Coimbra, e vai-se alargando, como círculos em água para onde se atirou uma pedra.

A cadeia de valor, entendem alguns produtores e autarcas, emperra na falta de leite com Denominação de Origem Protegida (DOP) para a produção e de pastagens.

Portugal é um País onde, estatisticamente, se come muito queijo e, talvez por isso, os produtores sintam haver um certo esquecimento do sector.

“Sentimos que há falta de incentivos sérios e práticos para que os jovens se dediquem à actividade; à agricultura e à pastorícia”, aponta Fátima Carvalho, sócia-gerente da Queijaria Prado da Sicó, sediada em Santiago da Guarda, no concelho de Ansião.

“Sem leite, não há queijo”, diz e alerta para o facto de estar idosa a população que se dedica à criação de rebanho de cabras e ovelhas, essenciais, por exemplo, para a produção do Rabaçal - com duas partes de leite de ovelha e uma de cabra.

“Na zona, não vejo jovens com projectos ou a abrir explorações.”

Também Rui Oliveira, grão-mestre chanceler da Confraria do Queijo Raba- çal, lamenta que haja cada vez menos produtores de leite e se verifique a ausência de apoios estatais para a agricultura, pastorícia e produção de produtos endógenos.

“A maioria dos produtores de leite, mais velhos, estão a desistir dos rebanhos. Quando acabar o leite DOP, segue-se o quê? O falso Queijo do Rabaçal?”

É um produto DOP e só pode ser confeccionado com leite de produtores certificados da zona da serra. Quem conhece o verdadeiro Rabaçal sabe que este tem um sabor e odor marcados pelo tomilho ou “Erva de Santa Maria”, como é conhecido localmente.

Pelo menos, é o que assevera o grão-mestre chanceler da confraria que conta com 130 confrades com inscrições activas. “É um alimento rico em gorduras, ácidos aminados, proteína e vitaminas A e B”, adianta este médico de profissão.

“Há um caderno de encargos que fixa o diâmetro, a altura, a textura, o tempo de maturação e, no final, há ainda a certificação de uma entidade externa”, diz Fátima Carvalho, alertando para a diferença entre “queijo produzido no Rabaçal” e “queijo do Rabaçal”.

Fernando Brás, presidente da Aprorabaçal - Associação de Produtores Rabaçal e produtor de leite de ovelha, discorda que haja falta de produção. Assegura que a produção de leite na região DOP é suficiente.

O que falta é a promoção nacional do Queijo do Rabaçal e uma acção concertada e forte que junte empresas, municípios e a associação de municípios Terras de Sicó.

“Se o mercado procurasse o Rabaçal, ele produzia-se, mesmo com preço mais elevado”, resume e aponta os casos do Serra da Estrela ou o Queijo de Azeitão, cujas marcas estão muito divulgadas.

“Aqui o litro de leite de ovelha é pago ao produtor a 1,20 euros e o de cabra a 0,80 cêntimos. Em Azeitão, o leite é pago a 1,35 porque o queijo é valorizado. Os municípios da Serra da Estrela e de Palmela não olham a gastos e a estratégias para fazer a promoção”.

O produtor deixa mais um recado. “Quem vai à Serra da Estrela, não procura outro queijo que não o de lá. Mas quem vai à Sicó, não pede Rabaçal, por desconhecimento ou por o achar caro.” Uma questão de marketing, conclui.

Apesar da discussão, a dinâmica do mercado não cessa e segundo o responsável da Aprorabaçal, há mais produtores a largarem o leite e a dedicarem-se à criação de borrego para exportação, uma actividade que se traduz em maiores receitas, menos custos e menos trabalho.

Rui Oliveira comunga da ideia de promoção e sublinha que a associação de município Terras de Sicó tem de ser mais activa, “dinâmica” e ter medidas concertadas para a reivindicação de apoio públicos para a promoção do queijo e auxílio aos produtores.

Na verdade, tem havido respostas dos municípios, embora não na direcção desejada pelos produtores de leite e de queijo.

Há dois anos, por exemplo, Penela e a Aprorabaçal estimularam os produtores com escolas de pastores e projectos para auxiliar o desenvolvimento de modelos de negócio associados ao maneio do gado e produção de leite.

PME Excelência
“Melhor queijo de Portugal”

Desde 2014 que a Queijaria Prado da Sicó vence todos os anos a distinção “o melhor queijo de Portugal” e “o melhor requeijão”, além de várias menções honrosas.

Esta PME Excelência emprega meia centena de colaboradores e consta do ranking das 50 maiores empresas do concelho de Ansião.
 
É uma das maiores da Serra de Sicó e produz queijo fresco, de mistura, de cabra, de ovelha ou requeijão. O mais procurado é o de mistura de cabra, ovelha e vaca. Produz ainda o de Santiago, um queijo tipo da Ilha, com 12 quilos e uma cura que pode ir até aos oito meses.
 
De segunda a sexta, transforma cerca de 28 mil litros de leite em queijo, excepto ao sábado, quando a fasquia fica pelos 15 mil.
 
Conta com uma loja especializada em queijo e produtos locais, como o azeite, o mel, os licores, a aguardente ou o chícharo.
 
“É uma forma de apoiar outros produtores da região”, conta Fátima Carvalho, a gerente