Se a Aldeia de Natal não vai à cidade, o Natal vai à aldeia

Na cidade de Leiria, as iluminações nas ruas e edifícios continuam a ser uma oportunidade de fazer mais uma fotografia para colocar no Instagram, mas não há Pai Natal, não há renas, não há duendes, não há pista de gelo, não há passeios em família à Aldeia de Natal que, anualmente, se instala entre o Mercado de Sant’Ana e o largo do Papa.

Perante este cenário, a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Bidoeira de Cima (APEEBC), no concelho de Leiria, resolveu chamar a si a tarefa de soprar a centelha e de acender a chama do Natal na EB 1 e Jardim de Infância da Bidoeira de Cima.

Aproveitando alguns dias de pausa escolar, pegaram em martelos, serrotes e tintas e construíram uma Aldeia de Natal dentro da escola para os cerca de 140 meninos e meninas que a frequentam.

Em escala mais pequena, há de tudo, até um comboio que rola, em pouca-terra, de um lado para o outro e faz as delícias dos mais pequenos.

“Houve um grande envolvimento dos pais e encarregados de educação, que meteram mãos à obra e montaram tudo. Empregámos materiais reciclados e reutilizados, como paletes e elementos decorativos antigos. Depois desinfectou-se tudo e deixou-se de quarentena, antes de se deixar as crianças à solta na ‘aldeia’”, explica Vânia Oliveira, membro da APEEBC.

Na escola há até uma caixa de correio, pronta a receber as cartas dos meninos e meninas, endereçadas ao Menino Jesus ou ao Pai Natal.

Os encarregados de educação depois recolhem-nas e enviam-nas pelos CTT para o Pólo Norte ou para o Céu. Depende do destinatário.

“Muitos pais não sabiam que as cartas recebem sempre uma resposta dos CTT”, afirma Vânia, que é também professora da unidade curricular de Economia e Contabilidade.

Mas as surpresas nesta escola não terminaram no dia em que as crianças regressaram ao recreio para o encontrar transformado em Aldeia de Natal. A associação de pais conseguiu que a Junta de Freguesia e uma empresa de climatização sediada na freguesia vizinha da Boa Vista patrocinassem uma ida ao estabelecimento de ensino do comboio dos artistas, o mesmo que a Câmara Municipal de Leiria contratou para passar nas ruas principais das freguesias.

A empresa também pagou para o comboio ir ao centro escolar da Boa Vista, levando música, o Pai Natal e os seus duendes ajudantes. Mas ainda haverá mais um motivo de surpresa na Bidoeira de Cima.

A APEEBC, em conjunto com a Junta de Freguesia da Bidoeira de Cima, custeou uma prenda por aluno que será entregue pelos docentes. As ofertas foram desinfectadas e estão há mais de uma semana em quarentena, para chegarem completamente inócuas às mãos dos mais pequenos.

“Agradecemos a todas as famílias, pais e encarregados de educação, a todos e a todas as entidades que nos ajudaram neste esforço de construir esta Aldeia de Natal”, remata Vânia Oliveira.

Natal na Aldeia
A Covid-19 não suspendeu as celebrações da “Festa da Luz e da Família” nas aldeias onde, todos os anos, se constroem grandes presépios com elementos móveis, quedas de água, reis-magos a seguir uma estrela em busca do Menino Jesus, pastores, profissões tradicionais e os incontornáveis burro e vaca a aquecer com o seu bafo, “o menino em palhinhas deitado”.

Trazemos aqui vários casos, das muitas e variadas iniciativas, que estão a decorrer em várias freguesias.

Na Matoeira, terra natal do guarda-redes da Selecção Nacional, Rui Patrício, há um presépio ao ar livre, com 60 figuras animadas e estáticas, que resulta do trabalho de cerca de 20 pessoas desta aldeia da freguesia de Regueira de Pontes, no concelho de Leiria.

Em dois meses, criaram uma aldeia de Natal, que, além do presépio, conta com uma casa que alberga um Pai Natal mecânico, com gruta e até com um lago artificial. A iniciativa é da Associação para o Desenvolvimento da Matoeira e do Carril e, como explicou à Lusa,a presidente da direcção, o presépio “é o maior feito até hoje”.

E foi a pandemia quem impulsionou a tarefa, explica Manuela Brás. “Para nós, foi um escape. Estamos todos confinados, não podíamos estar uns com os outros e o presépio permitiu-nos estar ali em convívio, sem ser aglomerados. Divertiu-nos e psicologicamente ajuda.”

Para a responsável, o presépio da Matoeira destaca-se porque cresceu “segundo a capacidade de cada um” e utilizando materiais reciclados e reaproveitados, como sacos de ração.

“Não é nada que se compre, é fruto do trabalho manual de cada um, com muita dedicação e muito sacrifício”. Quem visitar o espaço aos domingos, irá encontrar um aliciante extra.

Num forno tradicional, é cozido pão à moda antiga.

Até 23 de Janeiro de 2021, a aldeia de Natal recebe visitas, com precauções de segurança e seguindo as indicações da Direcção-Geral da Saúde: na gruta, por exemplo, só podem entrar duas pessoas de cada vez, sendo obrigatório o uso de máscara.

Ali perto, na Moita da Roda, localidade da União das Freguesias de Souto da Carpalhosa e Ortigosa, também no concelho de Leiria, não há apenas um presépio, mas nove, espalhados ao longo do território da localidade e visitáveis ao longo do itinerário de um percurso pedestre.

Isto porque a comunidade da Moita da Roda mobilizou-se para preparar aos visitantes um percurso de presépios acessível a pé, de bicicleta, de moto ou de carro, pelas ruas, onde estão localizados nos fontanários antigos como forma de os valorizar e preservar.

Há até um código QR que dá a conhecer a aldeia. O percurso dos presépios está disponível aos visitantes até ao dia 6 de Janeiro de 2021. Além deste percurso, estão disponíveis mais percursos ao longo do ano em https://percursodosfontanariosdamoitadaroda.blogspot.com/.

Já no Arrabal (concelho de Leiria) parece que todos encarnaram o espírito natalício.

Os escuteiros, as crianças das escolas e moradores criaram presépios em várias localidades da freguesia, e até os idosos do lar Recanto do Arrabal - Residência Sénior doou cabazes de géneros alimentares ao município para serem entregues a famílias em situação de vulnerabilidade social do concelho.

E se é uma das duas mil famílias a residir na freguesia, deverá receber um postal de Natal, elaborado pelos utentes dos lares e instituições da freguesia, e pelos alunos das escolas. No dia 24, entre as 10 e as 12 horas, pelas ruas de todos os lugares, passará um comboio com músicos das filarmónicas do Soutocico e do Arrabal, acompanhados pelo Pai Natal.

Por fim, em Serro Ventoso, no concelho de Porto de Mós, apesar dos esforços dos bombeiros, um incêndio carbonizou uma das mais belas zonas do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, no passado Verão.

Como forma de chamar a atenção para a necessidade de evitar tais cenários e celebrar a quadra, foi um presépio foi construído com a madeira queimada.

Um pinheiro ardido nesse fogo foi a matéria-prima utilizada pelo escultor Nelson Ramos para esculpir as grandes figuras tradicionais. A

representação foi colocada junto à Igreja local.