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Silence Becomes It: os 20 anos do jackpot que todas as editoras rejeitaram
Primeiro álbum dos Silence 4 vendeu 240 mil cópias. David Fonseca regressa hoje a Leiria.
David Fonseca regressa hoje à casa de partida, Leiria, para o concerto do álbum Radio Gemini, o sétimo de originais na carreira a solo do músico que ama a fotografia e se imaginava realizador de cinema.
O estrelato chegou há precisamente 20 anos, com a enorme popularidade do primeiro longa duração dos Silence 4, que incluía a famosa versão de A Little Respect, dos britânicos Erasure. Uma ascensão meteórica. Graças a esta e a outras canções, com arranjos simples, mas a transbordar de intensidade, carisma e melodias gulosas, Silence Becomes It vendeu 240 mil cópias, ou seja, o equivalente a seis discos de platina. Está na lista dos mais vendidos de sempre em Portugal, com as receitas a atingirem valores na ordem dos sete dígitos. Um feito sem precedentes para uma banda da província a orbitar fora dos círculos artísticos de Lisboa ou do Porto.
Se a PolyGram (hoje Universal) ganhou muito dinheiro com a estreia dos Silence 4, um autêntico jackpot com investimento mínimo, os músicos não: 12% do preço ao público de cada exemplar, a dividir pelos quatro, fora as royalties.
Contas de uma história que a indústria rejeitou vezes sem conta. Num tempo de poder quase absoluto concentrado nas maiores editoras, a própria PolyGram disse não, antes de dizer sim. "Apresentei a maquete e bati às portas literalmente de todas as editoras em Portugal. Uma banda que recebeu tantos nãos, depois vender 240 mil discos... Acho que se arrependeram imenso, mas ninguém podia saber, nem eu", afirma David Fonseca, que fala de "um fenómeno absurdo" e "gigantesco", que "hoje é impossível", pela natureza fragmentada da internet, a principal plataforma de consumo de música.
Uma sugestão estranha. Lançado em 1998, com 15 temas, incluindo a faixa escondida, Silence Becomes It acaba por surfar o tsunami provocado pela cover de A Little Respect, que aparece na colectânea Sons de Todas as Cores, ao lado de nomes como Pedro Abrunhosa, Delfins ou Xutos & Pontapés.
Perante tantos consagrados, David Fonseca propõe a canção dos Erasure num dos encontros com Rui Costa, Tozé Pedrosa e Sofia Lisboa. "Uma sugestão muito estranha", diz o cantor e compositor, mas fulminante. "Resolvemos fazer a versão porque pareceu-me que era a maneira de chamar mais a atenção". E foi: a Antena 3 adopta A Little Respect como single da colectânea, Portugal acorda para um novo êxito das rádios e o elevador da fama abre-se para o colectivo que ensaiava na Reixida, em instalações da Movicortes, onde aconteceu também o primeiro concerto de sempre, partilhadas com os artistas plásticos Nuno Sousa Vieira, Rita Gaspar e João dos Santos, entre outros.
Nas negociações com a Polygram, regressa a exigência que já tinha impedido os Silence 4 de assinarem com uma multinacional, apesar da vitória no festival Termómetro Unplugged:cantar em português. "Recusei totalmente essa ideia porque a banda tinha uma identidade muito própria e não seria a mesma se tivessse de fazer uma coisa radicalmente diferente daquilo que estava a fazer", explica David Fonseca.
Em terreno virgem, sem histórico no mercado de projectos portugueses com letras em inglês e sucesso comercial, inicia-se um braço de ferro que termina com a solução possível: duas canções em português, uma delas Eu Não Sei Dizer, com o quarteto de Leiria a exigir a colaboração de Sérgio Godinho como letrista, o que sucede na faixa 8, Sextos Sentidos, em que empresta a veia lírica e a voz ao original do baixista Rui Costa.
Sestas, cartas e demónios. Chegam ao estúdio Kasbah com meia centena de canções. Uma das favoritas do baterista, que metia folgas no trabalho para se apresentar no Porto, fica de fora da selecção final: chamava-se, justamente, Silence Becomes It. Mas estão lá outras: Old Letters e Dying Young, por exemplo.
As gravações com o produtor Mário Barreiros decorrem num ambiente "muito positivo, alegre e aberto", recorda Tozé Pedrosa. Dias "muito intensos", encarados "com seriedade" pelos músicos, que sentiam estar a viver "um momento muito importante". O convite a Mário Barreiros foi ideia do baixista Rui Costa, que não esteve disponível para falar ao JORNAL DE LEIRIA em tempo útil.
No Porto, os Silence 4 partilharam um apartamento durante as gravações. Sofia Lisboa lembra que David Fonseca dormia pouco, mas compensava as horas devidas à cama com sestas durante as pausas no estúdio. Ela era "a única miúda", logo "super-mimada".
Quando Silence Becomes It chega às lojas e a correspondência dos fãs começa a cair em avalanche, a faixa escondida do álbum – Sex Freak, sobre alguém que afoga as mágoas do amor no vício do sexo – ganha um protagonismo inesperado: "Lembro-me de recebermos uma carta, a dizer que éramos discípulos do diabo, porque aquela faixa escondida era no fundo um chamamento ao demónio", conta a vocalista.
Sex Freak era tocada nos concertos como improvisação em cima de três acordes, mas acaba por entrar no alinhamento do LP para agradar ao responsável máximo da PolyGram em Portugal, que deu luz verde ao contrato com os Silence 4 depois de os ver ao vivo na discoteca Stressless, no Pedróg&
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