Saúde
Sindicado avisa: limitações na urgência do hospital de Leiria podem repetir-se
Segundo o Sindicato Independente dos Médicos, esta sexta-feira volta a não haver ortopedistas na urgência e no final do mês não estão escalados cirurgiões ao fim-de-semana
As limitações no acesso ao Serviço de Urgência Geral do Hospital de Santo André, em Leiria, podem voltar a repetir-se. O aviso é do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), cujo representante esteve esta quarta-feira de visita à unidade.
Nessa altura, o funcionamento do serviço estava "normalizado", depois de 12 horas - entre as 22 horas de ontem e as 8 horas desta quarta-feira - em que a urgência funcionou condicionada, devido à falta de médicos.
Mesmo assim e, segundo informação do SIM, na última noite foram atendidos 80 doentes na urgência.
Em comunicado, o Centro Hospitalar de Leiria (CHL) indica que "entre as 20 horas de 12 de Outubro e as 8 horas de 13 de Outubro foram atendidos no Serviço de Urgência Geral do Hospital de Santo André 84 doentes e foi encaminhado para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra apenas um doente".
Em declarações aos jornalistas, prestadas no final da visita, José Carlos Almeida, secretário regional do centro do SIM, alertava que esta sexta-feira a urgência poderá voltar a funcionar sem ortopedistas, à semelhança do que aconteceu no passado dia 1.
O dirigente sindical advertia ainda para o facto de nas duas últimas sextas-feira e fins-de-semana de Outubro, "não haver qualquer cirurgião escalado" para o Serviço de Urgência Geral.
"As equipas médicas das urgências estão muito desfalcadas. Deviam ter o dobro dos médicos especialistas em Medicina Interna", afirma José Carlos Almeida.
Segundo o representante do SMRC, "normalmente estão três ou quatro médicos" na urgência, "dos quais, um ou dois são especialistas e os outros internos".
"Algumas vezes, está um médico interno do primeiro ou segundo ano responsável, sozinho, pela área dos amarelos e dos verdes e com sala de emergência", denuncia.
O Conselho de Administração do CHL tem reconhecido dificuldade na contratação de médicos.
Na semana passada, o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos revelou que faltam 50 especialistas no CHL nas áreas da Ortopedia, Cirurgia, Medicina Interna e Ginecologia/Obstetrícia, com impacto no serviço de urgências.
Carlos Cortes, que falava após uma reunião com os directores clínicos e a administração do CHL, revelou que “existe um défice de recursos humanos médicos gravíssimo, de mais de 50 médicos especialistas, tendo em conta que o hospital tem à volta de 269 médicos especialistas”.
António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, adianta que, desde Dezembro de 2015 a 31 de Agosto de 2021, o CHL “viu os seus recursos humanos crescer em mais de 400, mais concretamente 402, mais 21% em termos de profissionais de saúde, dos quais se destacam os mais 49 médicos especialistas”.
“Numa das áreas que é fundamental, que é a Medicina Interna são mais 12 especialistas face à mesma data. A Ortopedia é uma área que tem vindo, não só em Leiria, mas a nível nacional, a manifestar algumas dificuldades. Importa realçar que temos hoje mais 86 médicos especialistas do que a 31 de Dezembro de 2015, sendo que no hospital de Leiria, só temos mais um ortopedista do que na altura”, constatou o secretário de Estado.
Autarca preocupado
O presidente da câmara, Gonçalo Lopes, diz que o município "está a acompanhar, com natural preocupação", estando agendada para esta quinta-feira uma reunião com o Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral e a administração do CHL, "de modo a encontrar soluções que possam mitigar esta situação no curto-prazo".
"Neste momento estão a ser estudadas medidas para ultrapassar esta dificuldade, nomeadamente ao nível remuneratório de forma a conseguir um reforço de horas de trabalho complementar por parte dos médicos", adianta o autarca.
Gonçalo Lopes nota, no entanto, que "este é um problema estrutural e sistémico nacional, não se limitando a Leiria, sendo necessária uma solução de fundo, de modo ultrapassar situações desta natureza no futuro".
CHL quer solução com a tutela
No comunicado divulgado ao final do dia, o CHL refere que "o Serviço de Urgência Geral do Hospital de Santo André (HSA), ao contrário do que tem sido dito, não encerrou, tendo sido atendidos os utentes que se dirigiram a este serviço".
Refere que "manteve-se a referenciação dos doentes emergentes, com indicação ao CODU para o reencaminhamento para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), entre as 22 horas de ontem, dia 12 de Outubro, e as 8 horas de hoje, dia 13 de Outubro, dos doentes referenciados para a urgência médico-cirúrgica".
"O Conselho de Administração do CHL mantém-se empenhado na rápida resolução desta situação, em articulação com a tutela", lê-se no comunicado.