Viver

Três fotógrafos desafiam-nos a reflectir sobre o valor da água

25 out 2022 16:00

A exposição E no Princípio era a Água, com fotografias de Nuno André Ferreira, Adriano Miranda e Igor Ferreira, vai ocupar temporariamente as Cisternas do Castelo de Leiria, já a partir de sábado

“Virar a Página”, I
“Virar a Página”, I
Nuno André Ferreira
“Virar a Página”, II
“Virar a Página”, II
Nuno André Ferreira
“Dialéctica Ambiental”, I
“Dialéctica Ambiental”, I
Igor Ferreira
“Dialéctica Ambiental”, II
“Dialéctica Ambiental”, II
Igor Ferreira
“Terra Morta”, I
“Terra Morta”, I
Adriano Miranda
“Terra Morta”, II
“Terra Morta”, II
Adriano Miranda

Os fotógrafos Nuno André Ferreira, Adriano Miranda e Igor Ferreira são co-autores do livro E no Princípio era a Água, uma exploração do valor da água no centro da vida que reúne imagens captadas ao longo de meses para, entre outros ângulos de análise, alertar para as consequências das alterações climáticas, da poluição e da escassez de água potável.

A exposição associada ao projecto, também com o título E no Princípio era a Água, é inaugurada em Leiria no próximo sábado, 29 de Outubro, pelas 16 horas, nas Cisternas do Castelo de Leiria, precisamente com fotografias da autoria de Nuno André Ferreira, Adriano Miranda e Igor Ferreira.

Nuno André Ferreira é natural de Leiria, tem trabalhado como fotojornalista e operador de câmara ao serviço do Grupo Cofina (Correio da Manhã, CMTV, Record, Negócios, Sábado) e da agência Lusa, com três distinções maiores, todas por trabalhos de reportagem relacionados com incêndios, num currículo diversas vezes premiado: Prémio AMAN 2014, Prémio Rei de Espanha de Jornalismo 2018 e terceiro lugar na categoria Spot News (Singles) do World Press Photo 2021, tornando-se o sexto português, em 66 anos, premiado por um dos mais importantes prémios internacionais de fotojornalismo.

Colaborou no livro ViseuFolk (vários autores) e com Adriano Miranda publicou os livros Dever de Memória - Da Infâmia à Esperança e A Voz do Dão - O Diálogo da Uva e do Vinho.

Já este ano, assinou a exposição Escolas em Pandemia, um projecto do Museu Escolar de Marrazes, em Leiria.

Com carreira longa no jornal Público, onde está desde 1996, o fotojornalista e cronista Adriano Miranda é natural de Aveiro e tem também uma biografia pontuada por vários prémios profissionais, em que se destacam o Estação Imagem 2011 (Categoria “Retrato”), Prémio Gazeta 2017 e o Prémio de Jornalismo da Rede Europeia Anti-Pobreza.

Entre os mais de 20 livros que publicou, encontram-se temas como Timor, a Expo 98 ou os impactos do programa da troika e da Covid-19.

Igor Ferreira, natural de Viseu, é editor de fotografia do Jornal do Centro e conta com trabalhos publicados noutros órgãos de comunicação social, entre eles, o Público.

O futuro do planeta é questionado neste projecto, cujo livro é uma edição de autor, com design do ateliê Gráficos Associados.

“A visão de três fotojornalistas sobre o que a água dá e o que a água tira” convoca palavras de reflexão da escritora Patrícia Portela e do secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, que participam através de textos de abertura.

Com o resultado da recolha fotográfica, os autores pretendem criar um circuito de exposições e conferê̂ncias que levem o apelo a toda sociedade civil.

Conforme assinalam na nota de lançamento, “os avisos são sérios e nunca como agora” se debateram tanto as alterações climáticas. “Numa altura em que a escassez da água é uma realidade e o mundo enfrenta períodos de seca extrema é urgente respeitar o ambiente e a natureza”.

O tema é amplo – “a água dá-nos tudo" e "tudo é água”, diz Nuno André Ferreira ao JORNAL DE LEIRIA – e acaba por ser desdobrado em três correntes de interpretação. A que o fotojornalista de Leiria assina, com o título “Virar a Página”, lembra que “precisamos de ver a água, de a sentir, de a cheirar, de a ouvir”, porque ela “gere o ecossistema que sustenta a vida”.

Da água se obtém tudo, realça o autor. Tranquilidade, paz, alimentação, são quase inesgotáveis os frutos que a objectiva pode captar. Até o corpo humano é um assunto para a máquina fotográfica no tema água porque “70% do corpo humano é constituído por água”, comenta Nuno André Ferreira.

O trabalho abre com uma fotografia de um instrutor com um aluno numa piscina, o momento de uma aula para pessoas com necessidades especiais. E prossegue através de planos realmente díspares, de alguém a dormir num carro à beira-mar até à actividade agrícola nos campos do Lis, passando por instantes relacionados com a pesca no estuário do Mondego, a canoagem e hidroaviões telecomandados. Até o artesanato de vime está representado, porque a planta nasce em zonas húmidas.

No caso de Adriano Miranda, o ensaio com o título “Terra Morta” é um exercício sobre a impossibilidade do acesso a água. Retratos de animais empalhados dispostos em diálogo com imagens do arquivo pessoal do fotojornalista do Público. A metáfora do planeta do futuro sem batimento cardíaco.

Já Igor Ferreira, com “Dialéctica Ambiental”, apresenta pratos gastronómicos em que se descobrem vestígios da poluição dos oceanos por plástico e microplástico, num alerta que joga com a frase “somos o que comemos”.

No final, o projecto consegue cumprir o objectivo de partida, considera Nuno André Ferreira: “vários pontos de vista e perspectivas diferentes” para um mesmo tema: E no Princípio era a Água.

* Versão adaptada e actualizada do texto originalmente publicado na edição em papel do JORNAL DE LEIRIA de 28 de Julho de 2022