Sociedade

Victor Faria: "Um advogado sem instrumentos de cultura é uma personagem incompleta, sem graça"

5 fev 2017 00:00

Teatro, pintura, viagens e política na Impressão Digital desta semana.

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Victor Faria também já foi nome de actor, correcto?
Podia ter sido nome de actor, de arquitecto, de político, mas no momento das grandes opções acabou por ser nome de advogado. 

De que papel guarda memórias mais vincadas? 
Talvez o de diabo dos Autos das Barcas de  Gil Vicente. É uma personagem irreverente, sedutora, arguta, histriónica que permitia alguma liberdade criativa. Tinha tudo a ver com o jovem que eu era. E ainda me sinto!

E percalços, havia?
Lembro-me de um espectáculo do TEUC no Funchal ter sido proibido pela censura, já com a sala completa, por haver na peça uma cena que representava o funeral de um militar. Salazar tinha morrido semanas antes e alguém podia ver naquela cena uma analogia ao funeral do ditador. Era assim naqueles tempos!

Eram tempos em que o teatro se misturava com a política e com a actualidade nacional? 
O teatro universitário era um veículo de intervenção política e tinha nesses tempos um papel importantíssimo. Lá se conspirava contra o poder, se imaginavam as revoluções. Do palco partia-se para a rua. Tempos de boas memórias e das más memórias que não gostaríamos que regressassem.
 
É abusivo concluir que o advogado liquidou o actor? 
O advogado é uma segunda pele que, uma vez assumida,  nunca mais se despe e não deixa espaço para outras aventuras. Mas não posso dizer que o advogado liquidou o actor. Na vida todos representamos um papel, todos somos um pouco actores. A vida é, ao fim ao cabo, um grande palco, onde os cenários se sucedem e os papéis se ajustam . 

Também abandonou a pintura, ou, pelo menos, a participação com trabalhos próprios em exposições.
A pintura, tal como o teatro e a música, são disciplinas que exigem dedicação integral e as coisas ou se fazem bem ou se não fazem. Quando comecei a advogar passei para o outro lado, o lado de quem intervém numa perspectiva que, sendo activa,  não é a do criador.
 
A expressão pela arte ainda tem a mesma importância para si?  
O que seria a vida sem a música, sem o teatro, sem a pintura?

Já agora, a ligação ao Órfeão de Leiria, acaba na presidência de Assembleia Geral, ou, pelo contrário, estamos na presença de um jurista com ouvido para a música?
Os estatutos obrigam-me a ouvir os sócios. O gosto pela música justifica o resto. 

Por que precisamos de arte nas nossas vidas?
A arte e a vida são indissociáveis. Um advogado sem instrumentos de cultura é uma personagem incompleta, sem vivências, sem graça. E quem não sabe de vida não pode saber Direito.

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