Sociedade
Viver sem plástico é possível… até se ficar sem papel higiénico (galeria)
Mudar comportamentos é fácil, mas mercado não oferece alternativas
Sarah Beach e David Allen são um casal britânico a viver em Ansião há cinco anos. Fazem compostagem, adoptaram três cães numa associação local, plantam jardins de ervas aromáticas e esforçam-se por reduzir a pegada ecológica.
No dia 16 de Junho, deslocaram-se à Praia do Pedrógão, local de que frequentam muito, para ajudar a limpar a zona norte da estância balnear, durante a última acção de limpeza de lixo, Praia Limpa.
“Primeiro, senti-me revoltada com a quantidade de lixo que estava na praia, deixada tanto pelos banhistas como pela acção do mar. Depois, perante a quantidade de microplástico na areia e sabendo que há muito mais que não se consegue ver, dado o seu tamanho, que acabará no estômago de aves e animais marinhos, senti-me sem esperança. Mas também senti a positividade das pessoas que participaram na acção”, conta Sarah.
Durante o desafio Um Mês Sem Plástico, do ano passado, o casal conseguiu viver duas semanas sem adquirir bens embrulhados nesse material. Mas foi algo que fizeram com bastante esforço. Por vezes, parecia que não podiam comprar nada.
Recusavam sacos de plástico, levavam sacos de pano quando iam às compras, compravam produtos no mercado local. “Até que ficámos sem papel higiénico e não conseguimos encontrar rolos que não viessem enrolados em plástico. Foi então que percebemos que iria ser muito difícil evitar o plástico a 100%”, recorda a britânica.
Mas o esforço não foi em vão. De lá para cá, avaliaram que mudanças poderiam manter a longo prazo. Começaram a utilizar garrafas de água reutilizáveis – de vidro e metal -, escovas de dentes de bambu, cotonetes com pauzinhos em papel e a procurar embalagens em cartão, papel ou que possam ser reutilizáveis.
“Até começámos a fazer o nosso próprio pó para lavar os dentes, elixires bucais e a preferir sempre produtos de higiene sem embalagem em plástico. Garrafas de azeite e vinagre em vidro, saca de panos para o pão, para comprar os vegetais e frutas no supermercado… se não conseguimos encontrar produtos sem plásticos, como os cogumelos, que vêm em embalagens de poliestireno, deixamos de os consumir.”
- Evite sempre os produtos embalados em plástico, se tiver uma alternativa
- Use garrafas de água reutilizáveis, dispense os copos de plástico para café, use talheres de metal
- Utilize sabonete, em vez de gel de duche
- Prefira champô em barra (pode comprar-se online, com todas as mesmas características dos 2 ou 3 em 1)
- Opte por escovas de dentes em bambu. Quando gastas, o cabo pode ser usado em compostagem
- Compre cotonetes com pauzinhos em papel (há lojas físicas onde comprar e online) - Tenha sempre, por perto, um saco de pano, para pão, frutas, vegetais, mercearias (se for dado a lavores, pode até fazer o seu próprio)
- Use uma lancheira para transportar refeições
- Evite usar palhinhas, copos e talheres de plástico
- Este Verão, peça cones de sorvete e não copos
Areia dourada com salpicos de verde, vermelho e azul
A Praia do Pedrógão, bem como toda a linha de costa portuguesa, é atingida todos os anos por milhares de quilos de lixo marinho, constituído essencialmente por plástico, segundo os dados disponibilizados pelo Centro de Interpretação Ambiental CIA, de Leiria.
Esta entidade, da alçada do Município de Leiria, organiza periodicamente a Praia Limpa, acção de voluntariado para limpar a praia, no âmbito do Programa de Monitorização do Lixo Marinho, que permite identificar o tipo e lixo que chega à costa e adequar a intervenção na área da educação e sensibilização.
A próxima será no dia 21 de Julho. O JORNAL DE LEIRIA acompanhou, a 16 de Junho, uma dessas acções e registou que a maioria do lixo recolhido pelos voluntários é constituído por plástico e derivados do petróleo. Artes de pesca, garrafas de plástico, embalagens com inscrições em cirílico, palhinhas, pauzinhos de cotonete e de chupa-chupa, talheres, e até balões.
A Praia Limpa realizou acções em Abril, Maio e Junho, tendo recolhido, respectivamente, 520, 360 e 800 quilos de “lixo marinho”. Infelizmente, toda esta matériaprima não pode ser aproveitada. O plástico recolhido nas acções de limpeza, por se encontrar contaminado por restos de peixes, bivalves e outros seres marinhos, e devido ao longo período de exposição a agentes erosivos, não reúne condições para ser enviado para reciclagem, pelo que é encaminhado para o aterro sanitário.
Além disso, a quantidade de microplásticos com dimensão inferior a 2,5 centímetros que se consegue encontrar na areia, roubou o tom dourado às praias que, agora, estão pontilhadas de azul, vermelho e verde, partículas que os peixes irão comer e que, depois, irão parar ao nosso prato. E esse plástico não se consegue recolher em simples acções de voluntariado, exigindo máquinas e operações complexas.
Segundo a vereadora com o pelouro do Ambiente em Leiria, Ana Esperança, a autarquia tem desenvolvido uma série de acções no campo da educação e sensibilização, em especial junto da população estudantil.
“Têm igualmente sido desenvolvidas acções de sensibilização junto da população, no sentido de educar para a separação de resíduos para reciclagem e evitar a sua deposição indevida, seja na rede de esgotos, em lixeiras clandestinas ou em cursos de água.”
A responsável sublinha a necessidade de os municípios actuarem “ao nível da literacia ambiental dos seus munícipes”.