Opinião

A sociedade (pouco) inclusiva

3 jul 2025 08:00

Faltam recursos humanos e físicos, falta capacidade de resposta e falta capacidade de adaptação a necessidades tão específicas destes jovens portadores de deficiência

A crónica desta semana bem que podia chamar-se “a falta de resposta social para a deficiência” após um protesto de pais no concelho de Barcelos de três jovens autistas de 19 anos que viram a sua matrícula na escola ser recusada. Sim, eles já têm o 12º ano concluído mas, não têm alternativa. Pois só serão incluídos num Centro de Capacitação e Atividades dentro de um ano por este se encontrar em obras. E até lá o que faz a família com eles? E o que a escola tem a ver com isso?

Primeiro por lei os cidadãos com deficiência têm o direito de ficar na escola até aos 21 anos e segundo, a dualidade de critérios. Noutro agrupamento da mesma região foi permitido que outros jovens portadores de autismo da mesma idade pudessem ficar. Em que ficamos? Aquilo que se passa na escola é sintomático do que passa na sociedade. Um dos meus professores costumava dizer que “a escola é o microcosmos da sociedade”, no sentido em que tudo o que acontece na escola é o espelho do que passa na sociedade. E então?

Faltam recursos humanos e físicos, falta capacidade de resposta e falta capacidade de adaptação a necessidades tão específicas destes jovens portadores de deficiência mas também de doença mental. A culpa é da escola? Claro que não. Os diretores, pessoal docente e não docente muitas vezes “fazem omeletes sem ovos”. Mas sabemos que este é um sistema à beira do colapso. Assim como o SNS. Mas ambos esses sistemas são os esqueletos em que a nossa sociedade se sustenta. E que respostas alternativas há para as famílias?

Recordo-me de há uns anos ter acompanhado um jovem e a sua família pertencentes ao sistema de promoção e proteção. Desde a primária que sofria de ataques de fúria e aos 12 anos os seus ataques de fúria eram proporcionais ao seu tamanho. Nessas alturas tinha de ser fisicamente subjugado e a polícia e bombeiros acorriam ao local.

Acontece que este jovem, muito traumatizado da sua primeira infância, entrava em sobrecarga sensorial e emocional sob stress e necessitava de se retirar das situações. Nomeadamente de encontrar um espaço seguro, privado, a meia luz onde se pudesse enrolar no seu cobertor. Por vontade de todos, este miúdo teria sido retirado da escola e internado numa instituição psiquiátrica. Felizmente não havia vagas.

Foi preciso muita paciência e muita imaginação para lhe dar as respostas que ele necessitava, mas hoje é um jovem plenamente integrado na escola. Quem sabe o que lhe teria acontecido se não lhe tivéssemos conseguir dar a oportunidade? Talvez neste momento fosse “doente mental profissional.” Felizmente não saberemos isso. O que sabemos é que se tratam de cidadãos que necessitam não só de proteção mas igualmente de integração mediante as suas capacidades. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990